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Nina Lemos

Xuxa engajada é prova de que é possível ficar mais moderno com o tempo

Nina Lemos

22/07/2020 04h00

Crédito: Blad Meneghel

"Nos dias de hoje é fundamental você se posicionar. Se você se calar, está aceitando." A frase não foi dita por algum artista mega politizado e engajado, daqueles que sempre se posicionam e assumem uma posição política, como a rainha das lives Teresa Cristina, mas por Xuxa Meneghel, a Rainha dos Baixinhos, aos 57 anos. 

Xuxa é um exemplo do quanto é possível ficar mais moderno e antenado conforme o tempo passa. 

Enquanto a maioria dos artistas do mundo mainstream e milionário fecha os olhos para as tragédias e barbáries que acontecem no Brasil de 2020, Xuxa é das poucas a se posicionar quase que diariamente. Isso em uma época em que, por exemplo, ser contra a homofobia, pode despertar discussões políticas apaixonadas (no mau sentido). 

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A apresentadora já percebeu isso. Ao postar um vídeo do padre Júlio Lancelotti no qual ele pede perdão a gays que foram agredidos, alguns seguidores passaram a discutir por causa do presidente Jair Bolsonaro. "Não liga não hahaha, eles são Bolsonaristas e acha que estamos falando do presidente deles", disse Xuxa a uma seguidora.

Quem poderia imaginar? Durante a maioria da sua carreira, Xuxa, publicamente, foi neutra. O tipo de artista que defende conceitos mais amplos, como a paz, a ecologia, as crianças. Como, por exemplo, outro membro da realeza, o "rei" Roberto Carlos.  

A Xuxa de hoje saiu do trono e não deixa barato e nem parece ter medo algum de assumir suas posições. E isso serve para os pontos mais polêmicos de sua biografia.

Em entrevista ao OtaLab, do UOL, ela indicou que pessoas assistissem ao filme "Amor Estranho Amor" (filme feito há mais de 30 anos e no qual Xuxa interpreta uma prostituta que se relaciona com um adolescente). O filme sempre foi um ponto complicado da sua história. "Quem não viu, veja o filme. É um filme muito legal. Aquilo lá é uma ficção, não é minha biografia"

Ontem, Xuxa voltou ao noticiário político. Isso porque, ao saber que o guarda municipal agredido por um desembargador em Santos, mandou um beijo para ela. Para quem não viu o absurdo.  Em um vídeo que viralizou, o desembargador Eduardo Siqueira chama o guarda Cícero Hilário de analfabeto ao ser advertido de que deveria usar máscara.

Antifascista e antiracista

Em abril, depois que torcidas organizadas realizaram protestos antifascistas e contra o governo Bolsonaro, Xuxa postou no Instagram um símbolo antifascista em verde e amarelo onde estava escrito brasileira antifascista. 

Quando George Floyd foi assassinado, Xuxa postou o vídeo do assassinato, chamando os policiais de assassinos e reclamando do racismo. Essa tem sido uma das suas principais pautas.

Sim, a apresentadora tem dedicado parte da sua quarentena a postar conteúdo ativista em suas redes sociais. 

Em entrevista publicada domingo na revista "Veja", Xuxa, que escreve suas memórias, defendeu também o feminismo. "Não sou militante, ativista, não vou às ruas, mas acho a luta do feminismo de extrema importância. A mulher está longe de ocupar um lugar de igualdade e tem muito caminho pela frente."

Xuxa tem sido alvo de críticas à medida que envelhece. É criticada por mostrar rugas, por raspar a cabeça. Vive sendo chamada de "velha louca", as pessoas dizem que ela "faz coisas para quais não tem mais idade." Ela não volta atrás e costuma responder na lata, o que não deixa de ser uma atitude feminista. 

Como diz uma música cantada por Arnaldo Antunes, "A coisa mais moderna que existe nessa vida é envelhecer". 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.