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Nina Lemos

Como a Alemanha mantém comércio aberto e o coronavírus sob controle?

Nina Lemos

23/07/2020 04h00

Restaurante em Berlim na tarde de quarta-feira (foto: Nina Lemos)

Nos dias de calor, os parques e os cafés estão cheios, assim como as sorveterias e os restaurantes. Se não fosse por garçons usando máscara, talvez fosse possível esquecer que estamos no meio de uma pandemia mundial. Esse é o clima na Alemanha no verão de 2020. 

Enquanto outras cidades da Europa , como Barcelona, por exemplo, que abriram o comércio depois de "lockdowns" por causa do Coronavírus se veem obrigadas a impor restrições novamente, pelo menos em Berlim (e na maioria das cidades da Alemanha), respira-se (por enquanto) aliviado.

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As estatísticas são boas. No momento, existem cerca de 6.500 casos ativos na Alemanha. Não é muito se comparado com o total de mais de 200 mil casos totais. São cerca de 400 casos novos por dia. Em Berlim, o número esta semana está na casa dos vinte e poucos por dia. 

Os restaurantes e comércio começaram a ser abertos aos poucos, muito devagarinho, no fim de abril. Hoje, tudo  funciona quase que "normalmente". Nas lojas, shoppings e supermercados, só é possível entrar de máscara e um número máximo de pessoas (relativo ao tamanho do local) tem que ser respeitado, o que causa fila nas portas. Talvez por isso, os shoppings e as lojas continuam com movimento bem abaixo do normal.

Nos restaurantes e cafés o clima é diferente. O movimento voltou.  Segundo pesquisa divulgada ontem pelo Danske Bank, a frequência em restaurantes na Alemanha, ao contrário de outros países da Europa, já voltou ao normal. Em lugares como Estados Unidos e Grã Bretanha, segundo o estudo, o movimento é "muito ruim". 

Mesmo assim, existem restrições. As mesas precisam ficar separadas por um metro e meio. Os garçons usam máscara e os clientes aproveitam o verão para sentar do lado de fora (a prefeitura de Berlim permitiu que fossem colocadas mesas na calçada). A partir da semana que vem, grupos de até seis pessoas poderão sentar juntos (antes o número era limitado a quatro pessoas).

Claro que nem todas as regras são cumpridas exatamente como manda o figurino. Mas a maioria delas é, sim.

Esse talvez seja um dos motivos do sucesso. Mas ninguém está comemorando. A situação está boa por enquanto, mas a mensagem do governo é clara e reforça justamente esse por enquanto. É preciso ter cautela. 

E, mesmo com os números bons, nem tudo funciona como antes. Os cinemas foram abertos, mas são obrigados a deixar várias cadeiras vazias para que as pessoas sentem com distanciamento social. Nas academias, parte dos aparelhos está interditada e os clientes só podem tirar a máscara na hora de se exercitar.

O uso de máscara é obrigatório em lugares fechados e em transporte público. Quem não usa em transporte pode ter que pagar multa.

No momento, a maioria das decisões é tomada por cada estado, de acordo com as tendências dos números. 

Berlim, por exemplo, é conhecida mundialmente pelos clubes de música eletrônica. Mas eles estão fechados e não existe prazo para a abertura. Alguns fazem festas ao ar livre mas, mesmo assim, é proibido dançar e não pode ficar muito cheio.

A saída, para muitos, é fazer festas nos parques. Mas se tiver muita gente, a polícia pode aparecer e pedir que as pessoas cumpram o distanciamento social.

Nada de empolgação

Em maio, a chanceler Angela Merkel usou a comparação com um gelo fino para explicar o controle da pandemia. Ela quis dizer que qualquer movimento pode fazer esse gelo quebrar.

Fato. O que a Alemanha tem feito no momento para tentar manter a boa situação é fazer lockdowns locais. Em junho, alguns distritos tiveram restrições devido a surtos isolados. Uma das medidas é manter, por exemplo, habitantes de prédios em quarentena quando um surto é localizado no local. Isso já aconteceu em várias cidades, inclusive em Berlim.

O governo pretende continuar com a estratégia. E não comemora. No momento, o medo é que pessoas que saíram de férias para países da Europa como a Espanha tragam o vírus para o país e que isso cause uma segunda onda.  Pode acontecer. Por isso, melhor fazer como os alemães e não comemorar ainda. Inclusive porque manter máxima cautela é uma das razões dessa estratégia estar funcionando.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.