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Meghan Markle é a nova "megera". Por que mulheres sempre são as "difíceis"?

Nina Lemos

15/01/2019 04h00

Foto: Ian Watson/USA Network

"Será que a Meghan Markle tem problema com mulheres?". A frase estampava a manchete de um tabloide alemão. Prova de que, no mundo todo, corre o boato de que a duquesa Megan é a nova megera do pedaço. Motivo: sua guarda-costa teria pedido demissão. Essa seria a quarta funcionária da equipe da duquesa e do príncipe Harry a pedir para sair desde que eles se casaram. Mensagem subliminar: ninguém consegue aturar essa louca, essa megera. Sim, a mídia internacional diz com todas as letras que ela é conhecida como "a duquesa difícil". Talvez ela até seja, não importa, ela não é nossa amiga.

O que importa é que nós, mulheres, somos constantemente chamadas de "difíceis", uma maneira de falar que somos temperamentais, malucas, histéricas, já que os homens não recebem o mesmo tratamento.

Um famoso, um homem de negócios ou politico, ou mesmo um príncipe, com quem ninguém trabalha por muito tempo, em geral, é exigente, sério, uma pessoa que cobra muito dos funcionários. Em alguns casos, um cara durão.

Bem, todos sabemos que existem chefes difíceis mesmo de trabalhar, daqueles que gritam (um comportamento lamentável) e que isso não tem a ver com gênero, certo? Eu já tive chefe assim, homem e mulher…

Mas o tratamento ainda é outro. Nunca li que seja insuportável trabalhar com um príncipe porque ele seja difícil, como também nunca li que um empresário que demite muitas pessoas tenha "problemas com outros homens".

Mulher sempre briga com mulher

Meghan parece ter chegado na familia real para reforçar clichês (não, a culpa não é dela, mas dos colegas jornalistas de fofoca que reforçam estereótipos mesmo). Prova é o fetiche mundial por um suposto desentendimento dela como princesa a Kate Mildelton, a famosa mulher do príncipe William.

As duas, depois de serem vistas como melhores amigas, passaram, no fim do ano passado, a serem retratadas como grandes competidoras. Elas teriam brigado no fim do ano passado, o que teria provocado uma grande saia justa na familia real.

Qualquer prova de desentendimento entre as duas é divulgada pelos tablóides como se as pessoas estivessem salivando de prazer. Se os príncipes brigaram? Quem liga?

Sim, o tratamento dispensado a Megan mostra como ainda somos retratadas de maneira lamentável. Se temos poder, somos a Miranda, do "Diabo Veste Prada" e vivemos competindo uma com as outras. Detalhe: isso simplesmente não é verdade. Cientistas já provaram que homens competem mais entre si do que mulheres, como escrevi aqui.

Mas não adianta. O enredo continua sendo o mesmo desde os contos de fada da Cinderela (odiada pela madrasta e pelas filhas da madrasta): nos odiamos e temos problemas com mulheres. Esse conto de fadas contemporâneo (a princesa feminista que ia mudar a realeza, lembra?) parece que vai ser igual.

Até quando?

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.