"Lives proibidonas" fazem sucesso com mulheres sensualizando para funkeiros
Nina Lemos
24/04/2020 04h00
Reprodução Instagram
O confinamento da quarentena criou a mania das lives. Algumas são de música, com shows, outras são de famosos fazendo entrevistas, enfim, tem toda uma variedade. Mas junto com a febre, um fenômeno mais "polêmico" tem feito sucesso. Trata-se da "Live da PK delas", um "programa" feito pelo DJ carioca PK Delas e amigos. Atração? Mulheres rebolando, tirando a roupa e se exibindo para as câmeras, enquanto o DJ e os amigos dão notas para elas e fazem comentários sobre seus corpos.
O fenômeno junta, nas madrugadas, cerca de 200 mil pessoas por live. Em uma delas, exibida dia 22, por duas horas mulheres rebolaram para eles, enquanto o DJ fazia cara de "quero mais" e dava ordens (todas cumpridas de bom grado).
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Como funciona: os rapazes, em um cenário simples, gritam, dançam, e convidam mulheres para participar das lives. Muitas aceitam e até imploram para "entrar". A participação inclui dançar, fazer strip-tease, shows.
"Vira um pouquinho, bebê. Isso, mostra a carinha." "Calma, bebê, assim eu não aguento". Os caras literalmente babam. E, sim, muitas meninas (mais de dez por live) fazem isso porque querem. E de graça.
Enquanto a live acontece, muitas delas mandam mensagens: "me chama", "quero entrar".
Depois, com a tela dividida, elas fazem um show para eles e para a audiência. Para dar o clima, os DJs soltam vinhetas, como "dez, nota dez". Conforme o tempo passa, a coisa vai ficando mais explícita. Algumas mulheres tiram toda a roupa. Uma dá uma "aula de sexo oral". Em certo ponto, vemos a tela dividida. No meio, uma bunda. Do outro lado, os caras rebolando com a mão no pinto.
Bom negócio para eles
"Meu corpo minhas regras". Sim, verdade. Mas não é fácil ver a live (e eu vi mais de uma para tentar entender o fenômeno) sem sentir um incômodo. "Por que essas meninas estão fazendo isso?" Não sabemos. Mas elas aproveitam alguns segundos de glória dançando para cinco caras babando. Se preparam, criam figurinos. Elas se oferecem para eles? Claro. Elas se colocam como objeto? Obviamente. E, o mais louco, pelo jeito, elas realmente gostam.
Os DJs parecem adolescentes deslumbrados pelo corpo feminino, aquela coisa boba, babona, tipo filme de adolescente, mas em versão funk carioca. Por sorte, eles não falam muito. Quando falam, fica mais complicado. Em uma das lives, PK Delas respondeu perguntas. E lá vieram todos aqueles clichês machistas que a gente até acha que não existem mais. Perguntado se gosta de mulher magra ou gorda, ele diz que "as gordinhas têm boca de pelúcia". Sim, essa é a falta de nível. Do outro lado da tela, muitos marmanjos dão risada. E assim passam a madrugada em algumas noites da quarentena.
Para PK Delas, as lives viraram um grande sucesso e negócio. Já chegaram aos trend topics do Twitter e ele tem, no momento, 2 milhões de seguidores no Instagram. Mais de 1 milhão foram conquistados no período da quarentena, com a ajuda dessas lives.
Mas, e as meninas que se exibem? O que elas ganham? Alguns segundos se expondo, atenção e aprovação. "Nota 10", eles dizem. Complicado entender que para algumas mulheres fazer parte desse circo (e ser validada por homens babões) faça sentido em 2020.
Eles gritam na live "vem, vem, vem". Mas o mais assustador é que elas vão. Fazer o quê?
Em tempo: procurado pelo blog, a assessoria do Instagram disse que os casos estão sendo investigados.
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.