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No mundo pós coronavírus, será que a classe alta será menos mimada?

Nina Lemos

10/06/2020 04h00

 

 

Foto: Vasyl Dolmatov/ iStock

Para muita gente, a prova de que a pandemia do Coronavírus era realmente uma coisa séria e histórica aconteceu quando a Globo anunciou que estava suspendendo a gravação de novelas. Faz sentido. Afinal, as novelas da Globo são uma instituição nacional. E seus atores, estrelas. 

As novelas talvez voltem a ser gravadas em setembro, mas com mudanças. A emissora anunciou que, quando as gravações das novelas retornarem (o que está previsto para setembro, mas ainda depende da evolução da pandemia) algumas coisas vão mudar. As tais estrelas da Globo serão orientadas a fazer sua própria maquiagem. Sempre terão que se vestir sozinhos (!) e levar de casa a própria marmita. Pois é. Assim como a interrupção das gravações mostrou que a pandemia era séria, essa resolução é mais uma prova de que a vida pós Coronavírus vai ter que mudar. 

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E, entre elas, estão algumas atitudes "mimadas" que não são adotadas só por estrelas de televisão, mas por boa parte da classe média e alta brasileira. Essa mudança pode ser boa, certo? Claro, afinal você é adulto. E adulto já sabe se vestir sozinho (epa, isso até crianças de cinco anos sabem!), além de fazer outras coisas simples, como, por exemplo… abrir uma porta!

Com o coronavírus, adultos abastados vão ser obrigados a cuidar de si mesmos sem "babás". É a realidade que se impõe. Afinal, para ser "mimado", você tem que ter alguém perto de você, fazendo as coisas que, bem, você pode fazer sozinho.

Isso significa dispensar esses profissionais? Não! Mas respeitar a função de cada funcionário.

Vamos pensar, por exemplo, no trabalho das faxineiras…O trabalho delas não é catar a sua bagunça, mas fazer faxina, tanto que o nome da profissão é faxineira e não "catador de bagunça". Um porteiro, por exemplo, ele tem que abrir a porta para você? (quem você pensa que é!) ou cuidar da segurança, das entregas e organizar a portaria?

Algumas coisas que talvez a classe média e alta do Brasil (tão mimada) passe a fazer no mundo pós-Covid 19:

. Estacionar o próprio carro.

Em tempos de Coronavírus, não é uma boa ideia que outra pessoa entre no seu carro, certo? Ainda mais se essa pessoa tiver que entrar em 30 carros no mesmo dia. Sim, é chocante, mas, no Brasil, a figura do "manobrista" está em restaurantes, shopping e até academias. Para que ter um carro se você não é capaz nem de estacioná-lo? Você precisa mesmo agir como uma estrela de TV, largar a chave na mão de uma pessoa (que você nem cumprimenta) e sair andando?

.Abrir a própria porta

Falando em agir como uma estrela de rock. É bizarro. Mas já repararam como em vários lugares – dos prédios chiques de escritórios como da Faria Lima, em São Paulo, às lojas de luxo- existe uma pessoa que abre a porta para que os outros entrem? Sério, vocês são todos reis e rainhas que não conseguem abrir a própria porta?  

.Fazer a própria sobrancelha, a própria maquiagem

Outro exemplo vindo da Globo: a maquiadora de William Bonner e Renata Vasconcellos pegou Coronavírus e foi afastada. Durante esse período, Renata estava fazendo a própria maquiagem, e também a de Bonner. Bem, William também deveria aprender a se maquiar, certo? Não é à toa que as mulheres estão mais sobrecarregadas na quarentena… 

Serviços onde o profissional fica muito perto do rosto, no momento, são considerados perigosos. Na Alemanha (e isso vi com meus próprios olhos) na volta do isolamento os salões abriram, mas não podem fazer serviços faciais, como tirar a sobrancelha. E aí? Vamos ter que aprender a nos virar!

. Cuidar da própria bagunça

Depois de três meses sobrevivendo sem faxineira (se você é uma pessoa decente, dispensou a sua e seguiu pagando o salário dela), você já deve ter percebido que consegue cuidar da própria casa. Isso significa que vai dispensar sua faxineira quando a quarentena acabar? Não. Mas, gente, o trabalho dessa profissional é faxinar, como o nome diz. Não é "catadora de bagunça". Fazer uma boa faxina realmente é uma coisa que não é todo mundo que sabe fazer (eu não sei) por isso mesmo existe gente que é especialista em fazer isso bem. Agora, passar um pano, lavar uma louça, catar bagunça.. não fazer isso é apenas ser mimado. E, repito, qualquer criança de cinco anos já sabe fazer isso. Inclusive, como que você vai ensinar seu filho a "catar a bagunça" se você mesmo não cata a sua?

Quem sabe não saímos dessa, todos, mais adultos? Não custa sonhar…

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.