Direto de Paris, vídeos de youtuber cearense viram hit da quarentena
Universa
29/07/2020 04h00
"Tudo que você fala junto com o nome Paris parece chique" diz Max, youtuber hit da quarentena (foto: Arquivo pessoal)
A quarentena tem sido produtiva para o ator e youtuber Max Petterson, de 25 anos. Desde que a epidemia do Coronavírus chegou, seu número de seguidores quadruplicou. Trancado em uma quitinete em Paris, onde mora há quatro anos, o cearense de Farias de Brito passou 55 dias em total isolamento social. Enquanto isso, viu seus vídeos viralizarem.
No momento, ele tem mais de 400 mil seguidores no Instagram e quase 250 mil inscritos no Youtube. Max se tornou um dos hits da quarentena.
Talvez você já tenha visto um vídeo em que um menino vai fazer um crème brûlée. Ele esquece que esquentou uma colher com maçarico para fazer a cobertura e prova o doce com a mesma colher, queima a boca e reage gritando: "Ave Maria. Satanás, a colher estava quente, eu tinha me esquecido. Minha gente, eu não fiz de propósito não, colher do cão!!!"
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Em outro vídeo, um resgate de um gato do telhado de um prédio em Paris é narrado com um delicioso sotaque cearense. "O gato da muié e a muié ali, venha gato, e o gato não sai, e as mulheres ali olhando, ai mulher!". Max filmou o "resgato", como chama, do início ao fim, com direito a aplausos para o bombeiro, que faz o resgate e que, segundo Max, "merecia um suco Tang e uma bolacha."
O vídeo já teve 2 milhões de visualizações.
Max bombou pela primeira vez em 2017, com um vídeo impagável onde reclama do calor de Paris. O vídeo, onde ele fala coisas como "só venha para Paris no verão se você quiser ser como Joana d'Arc e morrer queimada", viralizou novamente na quarentena.
O blog conversou com Max sobre calor. "Dizem que vai fazer quarenta e três graus aqui, mulher, você pode imaginar? Ninguém acredita quando eu falo, lá no Ceará, do calor que faz aqui em Paris. Mullheeeer!"
Sim, Max fala do mesmo jeito com que fala nos vídeos. Leia a seguir trechos da entrevista:
Você mostra uma vida em Paris real, que não é só glamour. Acha que o seu sucesso vem daí?
Esse negócio de Paris é um portal para outra dimensão. Você fala o nome Paris, já parece que você está ostentando. Se eu falar que tive uma caganeira em Paris, vão achar que é chique porque foi em Paris. Uma vez estava no Crato, uma menina pediu para tirar uma foto comigo e perguntou: "Max, quando tu volta?" E eu disse "ah, volto semana que vem para Paris". E minha amiga: "ah, para Paris, heim, já foi dizendo que vai para Paris", como se eu fosse metido. Mas gente, eu moro em Paris. Agora falar para mim de Paris é igual falar do Crato, de Fortaleza. Mas não tem jeito, sempre que eu falar Paris, vão achar que eu estou esnobando (risos).
Você acha que o fato de morar em Paris ajuda no seu sucesso?
Ah, mas com certeza. Na parte artística eu já fazia isso que faço hoje no Brasil e ninguém ligava (Max estudava teatro no Crato). Agora que eu tô na França é diferente, as pessoas falam: "ah, ele faz teatro na França." No Brasil ainda tem muito isso. As pessoas acham que tudo que vem de fora é melhor. Quando eu vim para cá (ele foi sozinho para Paris, com dinheiro que coletou em uma vaquinha, há seis anos), tinha duas opções: ou ia para a Europa, ou para o Sudeste. Aí pensei: nos dois vou passar a mesma dificuldade, sendo que no Sudeste vou sofrer preconceito por ser nordestino. Na Europa, no máximo, preconceito por ser brasileiro, que é algo que nunca aconteceu.
E você enfrenta preconceito por ser nordestino?
As pessoas ainda se incomodam muito de ver um nordestino, do Ceará, do interior, com sotaque, uma pessoa que é todos os estereótipos, não estar sendo alvo de chacota, mas ser alguém que mora em Paris, que fala francês fluentemente, que frequenta embaixada…
Você é como nos videos ou aquilo é um personagem?
Mulher, eu nem sei mais (risos). Mas o Andy Warhol falava que as pessoas usavam várias máscaras na sociedade. Eu sou muito assim. Acho que quem me vê na internet, vê um Max com uma máscara. Tem o Max triste, tem o Max que tá de saco cheio e não quer falar com ninguém. Mas o que eu faço, na verdade, não é atuação. Na vida real eu sou assim mesmo com o povo. A única diferença é que na internet eu controlo minhas palavras. Quando estou com meus amigos, eu sou mais sem censura.
Por que você acha que está fazendo tanto sucesso na quarentena?
Veio muita gente durante a quarentena. Acho que tem uma coisa que é assim: tem muito blogueiro do esteriótipo, que vivia de fazer ostentação, de mostrar festa, luxo. Veio a pandemia, acabou com tudo. Aquilo ficou fútil. Vou tá vendo roupa nova para quê? Não tenho onde usar, minha gente! No meu caso foi o contrário. As pessoas viram meus comentários sobre meus vizinhos, minhas coisas, e se identificaram. Tem muita gente que fala que eu salvei a quarentena delas. Mas não, foram elas que salvaram a minha. Todo dia eu acordava sabendo que não podia ficar triste. Eu me sentia na obrigação de estar bem e passar uma coisa boa para as pessoas. Não era falso. Mas eu sabia que tinha que ficar bem e assim eu nem senti a quarentena.
O vídeo do gato foi real? Você imaginava que fosse fazer tanto sucesso?
O vídeo do gato foi mais pirateado que o filme Tropa de Elite 2 (risos). Então, eu perdi o controle daquele gato. Não sei mais onde aquele gato está. Aquele foi um sucesso que eu não esperava. Foi real. Eu estava em casa e o gato: "miau, miau." E depois de meia hora eu fui ver. Aí comecei a fazer o stories porque não tinha nada para fazer. Quando vi que estava dando muita audiência, postei no IG TV, mas eu não imaginava de jeito nenhum que aquilo ia viralizar. Nem o vizinho sonha com aquela visibilidade, nem o bombeiro. E nem o gato (risos).
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.