Topo

Nina Lemos

Casos de Victor e de goleiro Jean mostram o que acontece com agressor: nada

Nina Lemos

15/01/2020 04h00

Dentro do elevador, um homem agride uma mulher. Ele a puxa pelo cabelo, a joga no chão, a empurra com o pé. O homem em questão é o cantor Victor Chaves (que ficou milionário e mega famoso com a dupla sertaneja Victor e Leo). A mulher agredida é sua ex mulher, Poliana. A cena aconteceu em 2017 e foi divulgada essa semana (as imagens são chocantes, horríveis).

Victor, denunciado no mesmo dia pela ex mulher, passou esses mais de dois anos de boas. Agora, finalmente foi condenado. A sentença: 18 dias de prisão, que ele vai responder em liberdade. E sabe quanto ele vai pagar para a ex? 50 mil reais. Apenas. E, como se isso fosse muito, os advogados de Victor já recorreram. 

Leia também

Nina Lemos: Monick Camargo e Milena denunciam agressão. E o Instagram virou pedido de socorro

O goleiro Bruno volta ao campo aplaudido. Tem como achar isso normal? 

Também essa semana, tivemos o desgosto de ter outro exemplo famoso de prova de impunidade. O jogador do São Paulo Jean vai voltar a jogar bola. Para quem já esqueceu. Menos de um mês atrás (sim, foi outro dia!) ele foi acusado pela mulher, Milene Bemfica, de espancá-la (ela pediu socorro com o rosto todo machucado pelo Stories do Instagram). De férias nos Estados Unidos, Jean chegou a ser preso. Segundo a mulher, ele deu oito socos em seu rosto. O processo corre na justiça dos Estados Unidos e ele está proibido de chegar perto da mulher.

 Mas, de volta ao Brasil, a vida voltou a sorrir para o agressor. Ele foi afastado do São Paulo, mas logo um time apareceu interessado nele. E Jean já vai voltar a trabalhar. Vai jogar no Atlético de Goiás. Vai ser tratado como ídolo. Afinal, ele é bom de bola. Ou seja. Além de não ser punido, ele quase recebe um presente, uma condecoração.

O riso dos impunes

Ano passado, o cantor Victor Chaves gravou um vídeo no Youtube onde fazia piada com a acusação de agressão por parte da ex. No vídeo, ele faz uma entrevista com si mesmo. Ele diz: "Senhor Victor, a pergunta é o senhor joga futebol? Ele tem um ataque de riso e diz: jogo de vez em quando, mas não consigo acertar um chute, e cai na risada (ele faz piada com os chutes que teria dado na esposa grávida, um horror).

Ele ria das acusações e da justiça com a tranquilidade dos que sabem que não vão ser punidos. E não é que ele estava certo?

Os casos de Victor e Jean fazem  com que a gente pense no que acontece com tantos homens agressores no Brasil… nada! . 

Quando casos como esse vêm a tona, o recado para homens com tendência a agressão é um sinal verde. A mensagem é: "pode bater, não acontece nada mesmo!"

Para as mulheres agredidas (sempre bom lembrar que mais de 500 mulheres são agredidas por hora no Brasil) o recado é o seguinte: nem adianta denunciar, não vai acontecer nada demais com ele mesmo.

Claro, existem níveis de agressão e os casos são diferentes. Mas fica difícil acreditar em justiça quando a gente vê que ainda existe clube querendo contratar o goleiro Bruno, um ser que encomendou a morte da namorada. Quando alguém pensa que é normal que essa pessoa seja de novo um ídolo do futebol, dando autógrafos etc, está normalizando um crime hediondo contra mulher. 

Os caso da pena irrisória do cantor Victor, do novo trabalho de Jean, e na possível volta de Bruno aos campos parecem dizer: está liberado agredir mulher no Brasil. Uma lástima.

Ah, apesar desses exemplos tristes, vamos lembrar que agressão é, sim, crime! Se você for agredida, denuncie. A gente não pode deixar que o horror se normalize, não.

 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.