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Nina Lemos

BBB chega à reta final com duelo entre Anitta e Marquezine. E o feminismo?

Nina Lemos

22/04/2020 04h00

Reprodução Instagram

Quando começou, o Big Brother Brasil 20, uma das edições de maior sucesso da história, foi celebrada como o BBB do feminismo. Assuntos importantes foram trazidos para as rodas de discussão, como sororidade, abuso sexual e machismo.

Houve também, logo de início, uma forte união das mulheres, que conseguiram eliminar homens que demonstraram atitudes machistas dentro da casa. Perto de o programa acabar, no entanto, o que estamos vendo do lado de fora é o oposto disso: uma brigalhada. E entre mulheres.  

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Sim, o reality virou motivo para brigas reais. Sim, pessoas estão deixando de se falar e sofrendo ameaças na internet por causa de um programa de TV. Talvez seja a quarentena. Talvez muita gente esteja jogando o medo e a raiva da pandemia no BBB — até dá para entender.  

O problema é que, nessas discussões, o velho clichê da "briga de mulher" apareceu de novo. No momento, a competição mais famosa é protagonizada por Bruna Marquezine e Anitta. 

Essas famosas não estão no programa. Mas compõem a "torcida", uma parte importante do jogo e que, neste ano, ganhou celebridades do porte de Neymar. E de Bruna e Anitta.

Duelo de torcidas

Pra quem estava em outro planeta e perdeu a formação dos times: Bruna é a estrela do programa nas redes sociais, onde comanda a torcida pela amiga Manu Gavassi. Na reta final, Manu venceu mais um paredão, depois de disputar a permanência na casa com Mari e Babu. Anitta, também telespectadora fiel, por sua vez, havia declarado publicamente a torcida para que Manu saísse da casa. Mais: prometeu fazer uma live se isso acontecesse, criando uma guerra de fãs clubes: fãs de Anitta X fãs de Bruna.

Essa atitude me fez lembrar os tempos de escola, lá nos anos 80, quando garotas da turma das vencedoras disputavam quem era mais popular. Isso durou até a sétima série. Acho que na oitava todas já eram maduras para saber que esse tipo de competição entre mulheres não leva  a nada.

Em 2020, a disputa entre Bruna e Anitta virou um duelo de famosas, com auxílio de alguns colegas jornalistas e dos fãs de ambas — seria a chance de Bruna e Anitta fazerem uma espécie de batalha de popularidade. "Quem tem mais poder? A torcida de Anitta ou a torcida de Bruna?" A audiência aplaude e adora competição feminina, claro.

Calma que pode piorar. Qual seria o motivo do ódio de Anitta? Além de ela, supostamente, ter uma rixa com Bruna por causa de Neymar (atenção para o clichê, briga por causa de homem!), fofocas dizem que Manu teria sido "metida com Anitta".

Sinceramente, briga por causa de alguém ser metida eu não via desde a quinta série. Quando isso se torna uma briga pública fica ostensivamente mais infantil. 

O tal BBB do feminismo, quem diria, corre o risco de ser lembrado como um filme idiota de sessão da tarde sobre meninas competindo na escola. Mesmo sendo apenas um programa de TV, não deixa de ser decepcionante.

 

 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.