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Nina Lemos

Fiscais de quarentena: dar uma volta depois de cem dias trancado, pode?

Nina Lemos

29/06/2020 17h05

Global_Pics/ iStock

"Você tem que sair de casa. Eu te obrigo". Tive esse diálogo com minha melhor amiga, na sexta-feira. Ela, como a maioria dos meus conhecidos, amigos e familiares no Brasil, está há mais de 100 dias sozinha em casa, não saindo nem para ir ao supermercado.

Depois que os 100 dias passaram, comecei a ver amigos e familiares pirarem (como não?). Passei a dar o seguinte conselho: "vai dar uma voltinha."

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Minha amiga colocou um traje de astronauta e deu uma volta no quarteirão. Ela furou a quarentena? Ela enlouqueceu? Não, fez o que tinha que fazer para manter a sanidade mental. E, que fique claro: andou em uma rua vazia. De máscara e com aquele capacete de proteção. Mais cuidadosa, impossível.

De longe (moro na Alemanha), acompanho admirada a capacidade de sobrevivência de quem está trancado no Brasil. Por aqui, a quarentena começou junto com a do Brasil e durou um mês. Claro que o coronavírus não desapareceu. E, com a abertura do comércio e das creches e escolas, os casos inclusive aumentaram. Isso dito, continuo em isolamento social parcial. Evito pegar transporte público, encontro poucos amigos (e um de cada vez) evito aglomerações, uso máscara etc.

Enquanto não existir vacina para coronavírus, tudo indica que a minha vida vai continuar assim. Chato, mas tudo bem. Fazer o quê?

Agora, é possível ficar em casa indefinidamente sem dar ao menos uma voltinha? 

No Brasil, os casos não diminuíram e a tal curva não achatou (ao contrário do país em que vivo). Os especialistas divergem sobre quando uma vacina será acessível. Uns dizem que pode estar disponível em outubro

Mas tem quem ache que a vacina não vem antes de um ano. 

Se isso acontecer,  as pessoas vão passar um ano trancadas?

Um ano sem ver um amigo? Um ano sem ver os pais? Ou será que vamos ter que achar o jeito mais seguro possível de fazer isso?

Domingo, a influenciadora Krishna escreveu uma thread no Twitter sobre isso que para mim fez muito sentido:

 

Festas? De jeito nenhum!

Krishna não estava falando de frequentar festas, ir para a praia lotada como se nada estivesse acontecendo. Nem eu estou. Inclusive, nesse caso, eu sou fiscal de quarentena.

É revoltante ver que, enquanto a maioria das pessoas ou está em casa a mais de cem dias ou está trabalhando fora porque é obrigada e se arriscando, alguns famosos estão frequentando festas, isso porque, inclusive, em muitos estados e países, essa atitude ainda é proibida.

No fim de semana, a polícia teve que fechar uma festa em Caldas Novas (Goiás) com show de Bruno (da dupla Bruno e Marrone) em uma mansão. As ex-BBBs Ivy e Anamara estavam presentes. É só ler as notícias para saber o quanto festas são perigosas para contágio. Nos EUA, uma influenciadora resolveu dar uma festa. Resultado: todos os convidados foram contaminados.

Como fazer para não ser como essas pessoas irresponsáveis e ao mesmo tempo não enlouquecer meses e meses trancado em casa? Bem, cada um vai ter que achar seu jeito para manter a mínima sanidade (o que já é muito difícil no momento atual) e ao mesmo tempo não arriscar sua vida nem a de outras pessoas. Se é fácil? Não, é dificílimo e depende do bom senso e do limite de cada um. Mas vamos ter que aprender. Afinal, o momento é desafiador. Fazer o quê?

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.