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Por que Gabriela, Hana, Rizia e Rodrigo são escolhas perfeitas para o BBB19

Nina Lemos

30/01/2019 04h00

Hana e Gabriela conversando no BBB (Reprodução: TV UOL)

– Você fica desfilando de camisola pela casa.

– Olha o machismo institucionalizado! Se você fica andando de cueca, porque não posso andar de camisola?

Esse diálogo aconteceu entre os participantes Maycon e Hana no "BBB19". Sim, não foi em uma aula de sociologia, mas em um programa de TV mesmo.

Motivo: essa edição está sendo marcada pela reação na lata (dentro e fora da casa) contra quem é racista, homofóbico, machista.

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Racismo e machismo no BBB não é novidade. Eu já vi muito BBB na vida (por razões profissionais e por "gusto" mesmo) e sei que isso sempre foi normal no programa. Mas acontece que também era aceito aqui fora.

O comportamento dos caras escolhidos para participar do programa sempre foi, com exceções, aquele machão de academia. Homem dentro da piscina comentando bunda de mulher? Era normal. Homem falando absurdos na frente de mulheres sobre outras mulheres? Normal também. As moças não faziam nada. E até a gente, telespectadora, via aquilo com certo desgosto, mas por um lado pensava: "é a vida, fazer o quê?"

Agora que as moças passaram a dizer "não passarão" para comportamentos machistas e racistas, a produção do programa foi esperta o sufuciente para escalar alguns participantes que representam bem esse momento, como Gabriela, Hana, Rízia e Rodrigo. O último, gay, negro, gordo e ativista, tem dado aula sobre racismo no programa.

Achei que era um favelado

A polêmica da casa do momento diz respeito a Paula. Em um diálogo na cozinha, enquanto contava um caso de feminicídio, ela disse: "eu pensei que ia chegar o maior faveladão, mas era um branquinho."  Paula está sendo acusada (com razão) de racismo. Quando o BBB, começou, há 17 anos, isso aconteceria?  Difícil. Era uma época em que até a gente, telespectador, demorava para cravar o que era racismo ou não.

A fala de Paula parece com aquelas que muitos de nós, brancos, já ouvirmos de parentes. Estilo: "cuidado, tem um preto do lado da rua". Horrível, certo? Sim, mas parte da realidade racista brasileira em que fomos educadas. Hoje, graças aos negros conscientes que apontam isso na nossa cara, aprendemos, ou pelo menos tentamos, não reproduzir essa tipo de coisa.

Grande parte de nós, telespectadores, percebeu que não é normal nem um cara que anda de cueca reclamar de uma menina que anda de camisola, nem uma moça falar que está "surpresa por um bandido ser branco".

O diálogo na cozinha que causa tanto espanto representa muito dos absurdos que ouvimos por aí. Ao ouvir a história de agressão contra a mulher, uma participante pergunta: "mas o que ela fez?". E um homem responde: "o cara era louco."

Bem, sabemos que não interessa o que a mulher fez, que não existe motivo que justifique uma agressão. E também que homens que agridem não são "loucos". Mas, em geral, criminosos machistas mesmo.

Antes, isso provavelmente teria passado batido. Agora, não: rapidamente, no Twitter, jornalistas, militantes e telespectadores apontaram para o fato.

A gente acostuma – e isso é errado

Assim como o comentário da mesma Paula, de que ela, uma loira de cabelos longos, "tinha cabelo ruim." O que aconteceu? Ela ouviu uma aula de Gabriela: "epa, isso é racismo, não se fala que um cabelo é ruim", ela disse, na hora. Enquanto a outra justificava: "ah, é que a gente acostuma."

Pois é, nos acostumamos, mas (ainda bem) é bom que a gente desacostume rápido a falar certas bobagens. A inquietude contra os comportamentos machistas, homofóbicos e racistas só mostra que as coisas melhoraram.

Há alguns anos, uma participante do reality de mais de 50 anos, Marisa, foi chamada, entre outras coisas, de "velha que não sabia se comportar, nojenta, sem noção" por causa da… idade. Isso é ok? Não, não é.

Já teve BBB em que participante mandou mulher para o paredão porque ela bebia e não sabia se comportar. Oi?

No BBB3, os homens chegaram a montar um grupo chamado "máfia das cuecas", que tinha o objetivo de colocar todas as mulheres para fora. Seus integrantes passavam o dia falando absurdos sobre gays e mulheres.

O jogo virou. O conflito das ruas entre quem diz que não vai aceitar nenhuma forma de preconceito e os que sentem falta dos "bons tempos do politicamente incorreto" foi levado para dentro do BBB.

E ver o comportamento de meninas como Gabriela, Hana, Rizia e de um cara como Rodrigo está dando gosto. Eles estão ensinando que é possível dizer não e que preconceito não é normal. Não só para as pessoas da casa, mas para os telespectadores também.

Há quem chame isso de chatice. Eu chamo de avanço da civilização.

 

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.