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República para maiores de 55 anos: a tendência é que idosos dividam casa

Nina Lemos

08/04/2019 04h00

"Cansada de morar sozinha? Venha viver com a gente. Somos duas mulheres de 65 e 63 anos, moramos em um apartamento grande e temos um quarto disponível para outra pessoa. Gostamos de arte e vivemos em um ambiente multicultural. Escreva se você tiver mais de 55 anos."

Achei esse anúncio em um site de classificados de apartamentos em Berlim. A diferença desse: ele era dedicado só para pessoas de mais de 50. Apesar de dividir casa ser comum na Alemanha, os sites que oferecem esse tipo de oferta costumam ser para jovens.

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Mas dividir casa não é mais privilégio de jovem. Ter mais de 55 e decidir dividir apartamento ou morar em comunidade é uma tendência que cresce no mundo todo.

Desde 2015, o site Senior Sharing, nos Estados Unidos, funciona como uma espécie de "Tinder" para quem tem mais de 55 (não existe idade limite) de procura apartamento para dividir. Você preenche um cadastro, dizendo onde procura, quando pretende pagar, seus hobbies e interesses e, assim, você pode ter um match com alguém que tenha um quarto para alugar na mesma região. Se você quer alugar um quarto, o processo é semelhante. Simples assim.

Quebrando tabus

No mundo todo, a geração que hoje tem seus 70 (os "babyboomers", a geração que, nos anos 60 e 70, rasgou sutiãs, questionou o sistema) começam a quebrar esse tabu. A tendência, segundo especialistas em mercado imobiliário e em envelhecimento de todo o mundo é que o número de pessoas com mais de 60 morando juntos só cresça, o que seria uma nova maneira (mais saudável, barata e divertida) de envelhecer.

Sabe república? Então. Por que ficar sozinha, depois, por exemplo que os filhos saem de casa, ou de um divórcio ou da morte de um parceiro? Por que não morar com amigos na mesma situação?

Caminhamos para isso. Uma pesquisa realizada na Austrália, por exemplo, mostra que cada vez mais pessoas mais velhas estão optando por dividir apartamento. A maioria decide por razões econômicas.

Claro, se você não tem um apartamento próprio, alugar e dividir fica mais barato. E, se você comprou sua casa e, por exemplo, os filhos saíram de casa, alugar um quarto pode te dar uma renda extra. Só que elas acabam achando outros benefícios, como, por exemplo, se sentir menos solitário, o que, entre outras coisas, faz bem para a saúde.

Outra pesquisa mostra que essa tendência cresce no Canadá, em cidades como Toronto, onde a busca por imóveis é muito grande. A maior população com quartos vagos são as pessoas com mais de 60, que estão alugando não só para pessoas de sua idade, mas também para estudantes.

Eu quero uma casa no campo

Cresce também pelo mundo a criação das "co-houses" (um nome hipster para comunidades). Muitas pessoas que viveram em comunidades nos anos 60, 70 (e não só elas) estão voltando a morar nesses espaços. Nos Estados Unidos, já existem mais de 165 registradas e 140 em construção. Boa parte delas são dedicadas a pessoas de mais de 60 anos.

Rodam pelo mundo histórias como a da vila Liano Exit Strategy, no Texas, constituída por cinco casas para abrigar cinco amigos que se conhecem há 20 anos e decidiram envelhecer juntos (um deles é arquiteto).

Parece utopia, mas cada dia é mais real.

O tema já foi abordado no filme "E se vivêssemos todos juntos", em que um grupo de amigos resolve morar na casa de um deles, juntos, e chocam filhos e vizinhos com a idéia. "Seus hippies velhos", eles ouvem. E se divertem com isso. O filme é estrelado por Jane Fonda. Ela mesma, no seriado "Gracie e Frankie" interpreta uma mulher de 80 anos que, depois de se divorciar porque o marido revela ser gay, vai morar com uma amiga, que vira sua maior companheira de aventuras.

Os "Friends" do futuro podem ter mais de 60. E, pensando nisso, se o seriado fosse de verdade, eles talvez já estivessem inclusive pensando nisso. Até eles já passaram dos 50.

O tempo passa para todos. Mas, no fim, estamos aprendendo, isso pode não ser tão ruim assim…

 

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.