Algumas lições que podemos aprender com Jane Fonda, presa aos 81 anos
Nina Lemos
15/10/2019 04h00
Na sexta feira, enquanto a maioria de nós se preparava para o fim de semana contando as horas, reclamando de cansaço, da crise etc. fomos surpreendidos por uma notícia: a atriz Jane Fonda, 81 anos, havia sido presa em Washington enquanto protestava com um grupo no Capitólio. Jane, junto com outros 16 ativistas do "Oil Change International", movimento inspirado no "Friday For Future", criado por Greta Thunberg, de 16 anos, foram levados pela polícia algemados.
Enquanto isso, nós, "as pessoas na sala de jantar", estávamos nas redes sociais reclamando da vida, como sempre. Foi preciso vir a Jane Fonda, do alto de seus 60 anos de carreira, 50 anos como ativista e nos dar esse tapão na cara, tipo: "o que vocês estão esperando? Do que vocês estão reclamando?"
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Jane Fonda me fez pensar na minha geração, a chamada geração X, que hoje tem entre 40 e poucos e 50 e poucos anos. Comparados com ela, somos somos uns auto-centrados narcisistas. Vivemos inventando desculpas e reclamando da vida. Se você tem 20 e poucos ou 30 e poucos, estamos no mesmo barco. Não acho que a sua geração seja muito melhor não. Olhem para Jane… O que somos perto dela?
"Ah, mas Jane Fonda é rica e privilegiada", alguns dizem. É, sim. Mas por isso mesmo, oras, ela podia estar no seu merecido descanso, tirando férias em spas ao redor do mundo. Mas não, ela escolheu tirar férias para protestar e, quem sabe, ser presa.
Em entrevista ao "Los Angeles Times", ela contou, antes de ser presa, qual era o seu plano: tirar um ano de férias e mudar para Washington para protestar. E ser presa. Sim, usar sua celebridade para chamar atenção para os problemas criados pelo aquecimento global foi uma estratégia, e é possível que a gente passe o próximo mês vendo Jane ser presa. "Tentei negociar com o Netflix um ano de férias, mas eles só me deram quatro meses porque temos que gravar a última temporada de Grace e Frankie, até lá vou fazer isso (protestar)", ela disse na entrevista.
Escuta, ela tem 81 anos, quase 82! Ela está trabalhando e dedicando as suas férias para protestar por um mundo melhor! Enquanto isso, bem, a gente (e falo por mim mesma) quando consegue uns dias de férias já fala "eu mereço" fugir dos problemas do mundo! Ou fica na eterna ladainha de "estou cansada, não tenho tempo para nada. Ou, ah, estou deprimida. Repito, estou falando de mim mesma.
Ao ver Jane Fonda sendo presa, senti uma lufada de energia (acho que muitos sentimos o mesmo) ela imediatamente foi parar no Trend Topics do Twitter. Talvez a gente nunca consiga ser como a Jane, mas acho que podemos tirar algumas lições vendo o que ela fez e a sua história. Sim, eu passei o fim de semana obcecada pela Jane, li todas as suas recentes entrevistas e assisti o documentário "Jane Fonda Em Cinco Atos" (recomendo muito) que está disponível no HBO. Algumas coisas que podemos aprender com ela, além das que já mencionei acima:
1.A idade cronológica não significa que você é velho
"Aos 20 anos eu era muito mais velha do que sou aos 80", ela diz no documentário. Segundo ela, ser velho ou jovem depende da atitude e do estado de espírito. Eu não tenho dúvidas de que Jane Fonda, 35 anos mais velha do que eu, é beeem mais nova do que eu atualmente. E vocês, são mais jovens que ela?
2.É preciso sair da sua zona de conforto
Na entrevista para o Los Angeles Times, ela diz que depois de ler sobre a história da ativista sueca Greta Thunberg, que criou o movimento "Fridays for future", achou que fazer algo era o mínimo. Por isso, saiu de sua zona de conforto e mudou para Washington. E a gente, o que tem feito além de ficar no conforto do Facebook? Não estou falando que todo mundo tem que sair para protestar como Jane. Mas, bem, a gente podia pelo menos fazer algo que não seja o habitual "trabalhar-cuidar-da-casa-reclamar-nas-redes-sociais", não? Seja o que for, o que você quiser. Tipo, sei lá, escalar uma montanha, fazer um protesto, ALGUMA COISA que faça você se sentir vivo.
3- Os mais velhos podem aprender com os mais jovens e vice-versa
Jane foi inspirada por Greta, uma menina de 16 anos. E foi presa com pessoas muito mais novas que ela. Uma delas, Vasser Turner, é considerada neta de Jane por ser neta do seu ex marido, Ted Turner. Ela exibiu orgulhosa em seu blog uma foto da menina sendo presa e fez uma piada. Na foto da menina, a legenda diz: "Vasser sendo presa pela primeira vez". Na de Jane: "eu, sendo presa não pela primeira vez." Sim, Jane foi presa em 1970, quando era uma ativista contra a guerra do Vietnã. Sua imagem, com os braços levantados, é um clássico.
4-Faça exercício
Essa pode parecer a parte mais fácil. Para mim, não é. Mas Jane diz no documentário que faz exercício todos os dias e que ter músculos é "revolucionário." Fica feliz por estar ativa com a sua idade, mas se arrepende de ter feito plástica e ter cedido à pressão contra um envelhecimento natural.
5- Vamos parar de reclamar
Essa é a parte mais difícil, acho. Mas quando a gente começar a achar que está muito velho para isso, que não tem mais idade, que nosso tempo passou, podemos (e devemos pensar) no exemplo de Jane. Não existe idade limite para fazer ou não uma coisa. Com 82 anos você pode, inclusive… ser presa! E fazer piada sobre isso. No seu site, ela escreveu sobre a prisão. Disse que as algemas de hoje são de plástico, por isso mais confortáveis do que as de quanto foi presa pela primeira vez, que eram de metal. E contou que, depois de pagarem a fiança, ela foi com o grupo para um café conversar sobre a experiência, e acaba assim nos dando outra lição, que é, a gente pode ter amigo de todas as idades. E não deve olhar para os outros e pensar, "ah, mas é uma criança". E, claro, temos que manter o senso de humor.
Sim, são muitas, muitas as coisas que podemos aprender com Jane. Botar em prática não é assim tão fácil. Mas, sempre que começar a reclamar (ou alguma amiga, mãe, tia, reclamar da idade) lembremos da Jane Fonda.
Amém, Jane.
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.