Sabrina Sato presta serviço ao falar sobre falta de vontade de transar
Nina Lemos
22/11/2019 04h00
A grama do vizinho é sempre mais verde. Ainda mais agora, com tantos filtros do Instagram. A cama do vizinho também está sempre quente. Ali não falta sexo, ninguém sofre de rotina, cansaço e as mulheres não têm variação hormonal. Eles estão sempre dispostos. E ainda dormem abraçados a noite toda e ninguém ronca. Já nós, na vida real, nos sentimos indispostas ou sem vontade, cansadas, ou tudo junto.
Só que, falta de tesão, por exemplo, é uma coisa que acontece com todo mundo. E toda mulher, seja famosa, brasileira, alemã, anônima, tem hormônio. E eles variam. Principalmente em algumas fases, como depois que temos filhos, quando amamentamos, quando entramos no climatério, ou na menopausa.
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Isso acontece com todas (com variações, já que somos diferentes). Só que, claro, é tanta pressão (dos caras, de nós mesmas, dos anúncios de perfume, daqueles textos que ensinam a como ser um furacão na cama, e por aí vai) que muitas vezes acabamos achando que é só com a gente. E nos cobramos e nos sentimos culpadas. Sexo era para ser bom. Não era para ser pressão, oras.
Foi por isso que fiquei feliz ao ler a declaração que Sabrina Sato deu para a revista TPM. Para choque de muitos (provavelmente homens) ela disse que a sua vida sexual não anda lá essas coisas depois que ela teve a filha Zoe, de 11 meses.
"Ai, eu adoro sexo. Pena que não faço. Como melhora se não existe? Quem faz sexo depois de ser mãe? Não dá vontade nem de bater uma punheta para o marido. É difícil, a vontade não vem". E completou: "Quando você vira mãe, tudo muda. Atualmente, eu amo o Duda como se fosse meu irmão. É um amor gigantesco, eu olho para ele e sinto gratidão, mas não tesão. A gente precisa começar a falar sobre isso".
Precisamos falar sobre isso sim, Sabrina! E por que digo que o choque deve ter sido de homens (ou de mulheres muito jovens)? Porque nós, mulheres adultas, falamos, sim, sobre isso, mas ainda muito timidamente. É normal que uma amiga que tenha filho diga que anda sem vontade. Com o passar do tempo, temos também o assunto menopausa. E trocamos o que as nossas médicas nos disseram (mas ainda muito baixo, com certa vergonha). Claro que essas conversas precisam ser ampliadas (e faladas mais alto) para que a maldita culpa e as cobranças desapareçam.
Por isso, é sempre bom quando uma mulher famosa, principalmente essas maravilhosas, símbolos sexuais, tem coragem de tocar no tema. Sabrina, em época em que tudo parece perfeito, presta um serviço ao tocar no assunto.
Quando entrevistei Luana Piovani em setembro, ela me contou que passou pelo mesmo.
"Depois de filho, ninguém quer transar. E a gente fica fingindo, a gente não quer olhar pra cara do homem. Você tá cansada, se sentindo feia e com preguiça. Só de ele querer te comer loucamente, você já fica com raiva", ela disse.
"Ah, mas eu não quero saber da vida das famosas". Está bom, mesmo que você seja a pessoa mais imune do mundo ao que acontece com celebridades, pense que elas são influenciadoras. E, quando tocam nesse assunto, podem ajudar várias mulheres a tirar mais esse peso dos ombros. E, espero, a fazer alguns homens entenderem também que são momentos que devem, sim, ser respeitados.
A falta de apetite sexual em momentos como a amamentação, no pós-parto, no climatério e outras fases de nossas vidas é NORMAL. E, além disso, a vida de qualquer casal muda, passa por fases.
Uma pesquisa realizada na Irlanda, feita pelo Trinity College de Dublin, mostrou que, de acordo com uma amostragem de mulheres, o número de moças com parceiro fixo que só fazem sexo de uma a duas vezes por mês é de cerca 15% (quando elas não têm filhos). Esse índice cresce para 51% no caso de mulheres com filho. Especialistas ouvidos pelo UOL também dizem que a situação de Sabrina é completamente normal, como você pode ler aqui.
Isso quer dizer que mãe não transa? Não!!! Mas que existem fases. Momentos. E eles não são só psicológicos, repito, existe uma coisa chamada hormônio, que nem depende da gente, nem do parceiro.
Sim, a gente fez muito esforço para poder falar de sexo livremente. E conseguimos, ótimo! Mas agora precisamos também falar sobre a realidade menos glamourosa da vida, que inclui variações hormonais, preocupações, rotina, falta de sexo.
Acontece com Sabrina, com Luana, comigo e com você. E, sim, isso é normal. Ninguém é feliz o tempo inteiro. Ninguém tem tesão o tempo inteiro. Nem precisa. Sim, precisamos falar sobre isso. E também parar de nos cobrar.
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.