Gugu e Rose: ser parceiro e criar filhos não bastaria para ser uma família?
Nina Lemos
30/12/2019 04h00
(Reprodução/ Instagram)
Você pensa em ter filhos, um amigo que você ama e confia, também. Vocês combinam de ter filhos juntos. E têm. Esse tema não é tão incomum assim na vida moderna. É uma coisa que pode acontecer (e acho que pode ser legal). E, agora, é uma das versões da história que se desenrola entre a família de Gugu Liberato e a mãe de seus filhos, Rose Miriam Di Matteo.
O assunto é delicado, claro. Afinal, Gugu é um apresentador amado por todos que morreu de maneira trágica faz apenas um mês.
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Mas, como todos sabem, a relação dos dois está sendo motivo de debate, já que Rose, que não está no testamento de Gugu, entrou na justiça pedindo para que a relação dos dois seja reconhecida como união estável.
Na sexta feira, foi publicado que ela teria entrado também com pedido para ser inventariante dos bens deixados pelo apresentador, alegando que, "além de companheira dele por duas décadas, é também a representante legal de Sofia e Marina, as filhas do casal menores de idade."
Rose disse em entrevista à coluna de Mônica Bergamo que os dois eram um casal, faziam parte de uma família. Enquanto pessoas próximas da da família do apresentador dizem que eles eram "apenas amigos" e que ela seria "apenas mãe dos seus filhos."
Apenas mãe? Apenas amiga? Nenhuma dessas palavras combina com apenas, acho. Ao ler sobre o pedido de Rose Miriam de ser reconhecida como parceira dele, não consegui não me colocar no lugar dela.
Eu nunca tive filhos com amigos. Inclusive, não tenho filhos. Mas já pensei, sim, na possibilidade de ter um amigo como pai dos meus filhos. Até já conversei com alguns a respeito. Se uma pessoa quer muito ter filhos e não encontrou um companheiro para isso, do jeito tradicional de casado, qual o problema?
Amigos são pessoas em quem confiamos. Arrisco ainda que pode ser mais seguro ter filho com alguém que você conhece bem, respeita, do que com alguém por quem você se apaixonou.
Quantas amigas eu conheço que, depois da paixão, ficaram sozinhas, tendo que cuidar dos filhos por elas mesmas porque os pais ou desapareceram, ou só aparecem de vez em quando ou nem pensão dão? Muitas.
Ter filho com um amigo seria, certamente, mais "seguro". Ainda mais com um amigo que conheço há muito tempo.
A razão do meu afeto
Na comédia romântica dos anos 90 "A Razão do Meu Afeto" (uma graça de filme, recomendo), Jennifer Anniston interpreta uma mulher solteira que vai dividir apartamento com um cara gay. Eles viram melhores amigos. Jennifer engravida do namorado, quando já está separada dele. O que os amigos decidem? Criar o filho juntos, como uma família. Não dá exatamente certo. Mas eles continuam amigos e perto da criança.
No caso de Gugu e Rose, criar três filhos, em parceria, juntos, parece um claro modelo de família. Faz diferença se mora na mesma casa, se dorme junto?
Não estou falando que eu sei o que se passava entre Gugu e Rose. Não sei e não é da minha conta. E nem precisamos saber.
O que acho que pode ser da nossa conta é pensar sobre o que é uma família.
E, pelo que sabemos da família de Gugu, Rose, e os filhos (o que vimos em capas de revistas e redes sociais, e entrevistas) eles eram pais dedicados, passavam férias juntos. Ou seja, uma família!
Se dormiam na mesma cama? Se moravam na mesma casa? Isso interessa? Se duas pessoas adultas são companheiras e criam juntos filhos, elas não são uma família?
Particularmente, acho que existem várias maneiras possíveis de união familiar. Cuidar um do outro, por exemplo, não é ser uma família? Para pensar em um exemplo mais incomum, Gracie e Frankie, as personagens de um dos meus seriados favoritos, não seriam uma família? No caso, depois de descobrir que os maridos eram gays e apaixonados, elas passam a morar juntas e cuidam uma da outra em todas as horas. Isso não é família? Na minha opinião, sim. Existem muitas maneiras de ser família. Amizade (e não estou falando do caso de Gugu e Rose agora) não seria uma delas?
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.