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Jana Rosa: "adotei novas avós e elas salvaram minha quarentena"

Nina Lemos

15/04/2020 04h00

Cláudia Lacerda/TPM

"Não é você que adota as avós. No fim, são as vovós que adotam você". Quem diz isso é a blogueira e empresária Jana Rosa, de 34 anos, criadora da plataforma de beleza "Bonita de Pele." As avós, no caso, são moradoras do seu prédio, com quem passou a falar quase que diariamente durante a quarentena em São Paulo. 

Jana, assim como muitas pessoas no Brasil e no mundo, vem fazendo compras para vizinhas que, por causa da idade e da quarentena, não devem sair de casa por serem grupo de risco. Só que, no caso dela, a relação não virou só de compra, mas de amizade. Ou, como ela diz: "de avós e netas."

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"Coloquei no quadro de ajuda do meu prédio uma bilhete no qual oferecia ajuda para quem fosse grupo de risco e não tivesse alguém para ajudar a fazer compras. Foi assim que conheci minhas avós, que estão salvando a minha quarentena", conta. No momento, Jana tem quatro avós fixas, mas já se ofereceu para ter mais duas.

"Elas salvaram a minha quarentena.  Uma gosta muito de conversar. Então, nos falamos todo dia pelo interfone. É inacreditável o carinho dessas pessoas. Ela me dá comida, quer que eu prove as coisas que eu compro para ela, os biscoitinhos que elas gostam mais." O que começou com uma ajuda para fazer compras, virou, como ela diz, uma "adoção." 

"Não tem nada melhor do que em uma hora dessas, difícil, ter uma avó para conversar,  cuidar de você. O mais complicado da quarentena para mim, estava sendo ficar só. Elas amenizam a minha solidão. E também fico pensando em como elas se sentem sozinhas, sem poder sair. E ainda com as pessoas do governo falando o tempo todo que elas podem morrer, que não tem importância. Como se elas fossem descartáveis", diz.  

No caso de Jana, o apego a senhorinhas não vem de hoje. Ela era super próxima da avó Odila, que era presença constante nas redes sociais da blogueira e morreu ano passado, aos 97 anos. Suas novas avós, trouxeram um pouco da avó Odila de novo.

"Achei que nunca ia sentir novamente o carinho da minha avó, mas agora estou sentindo de novo. O que me revolta é que muitas pessoas, inclusive hipsters da minha geração, falam dos mais velhos como se eles fossem descartáveis. Espera, essas pessoas têm vida. Mesmo a minha avó Odila, que tinha 97 anos e já não estava tão consciente, poxa, ela acordava todos os dias feliz, porque ela adorava viver. Esse desprezo contra os mais velhos é assustador."

Para ser uma "neta da quarentena", ela diz que é importante tomar alguns cuidados.  "Passei a me cuidar mais. Não posso ficar doente, muito menos transmitir o vírus para elas. Por isso, vou ao supermercado de máscara e na hora da compra tento ser muito rápida. Assim que chego em casa tomo um banho." A responsabilidade também fez com que ela abandonasse a ideia de ir ficar com a mãe no interior. "Eu estou comprometida com elas. E, quer saber? É por isso que estou aguentando essa fase. Não fico surtando e pensando nos meus problemas o tempo inteiro."

E as velhinhas no asilo?

Depois de adotar as avós, Jana se empolgou e criou um novo projeto. Vai distribuir produtos de beleza e limpeza para profissionais de saúde. "No início, pensei em doar as coisas que temos em nosso acervo. Depois, conversei com a minha dermatologista que também quis doar, assim como marcas com as quais eu trabalho. Seu plano é estender o serviço para asilos.  

"Imagino que muitas avós estão sem receber visitas e, por isso, podem estar precisando de produtos de higiene. E também quero doar para quem trabalha em asilo, são pessoas que se sacrificam, que fazem um trabalho super importante e muitas vezes não podem voltar para casa para não contaminar os velhinhos de novo."

Se você está triste por não poder visitar seus avós, adote também uma avó. Ou melhor, seja adotada.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.