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Eduardo Costa: quem solta machismo em live esquece que é visto por milhões?

Nina Lemos

05/05/2020 04h00

Reprodução

Mais de três milhões de pessoas. Essa foi a audiência da live "Cabaré", dos cantores Leonardo e Eduardo Costa na última sexta-feira. Um número que torna o "show" um dos mais vistos na quarentena. E essas milhares de pessoas viram, ao vivo, além de música, frases baixas e machistas ditas por Eduardo aparentemente bêbado, fazendo anúncio de cachaça.

Eduardo se soltou na live. Na falta de público, ao lado de um amigo, parece ter se sentido à vontade para "se divertir" e falar o que pensa. Coisas como:"Mulher é igual galinha. A galinha bota o ovo, a mulher frita". "Estou igual filho de puta no dia dos pais". "O problema das mulheres são as amigas que fazem fofoca". E por aí vai.

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Na frase que mais causou escândalo, ele fez uma piada sexual com um bebê. Disse que o filho da cantora Thaeme (na verdade, ela tem uma filha de 1 ano, a Liz) era tão bonito que ele queria "trepar, trepar, pensando no bebê." Depois, Eduardo se explicou e pediu desculpas: disse que na verdade, falava que queria ter uma filha bonita como a da cantora. 

Ok. Mas esse tipo de piada já foi feita por Rafinha Bastos, que foi processado por dizer sobre Wanessa Camargo grávida que "comia ela e o bebê" e é, no mínimo, de um mau gosto desgraçado. E não é o que a "família brasileira", de quem Eduardo se diz defensor, quer ver…

Ontem, depois das críticas, o cantor disse que sua carreira acabou, que nunca mais iria cantar.  Aos prantos, gravou um vídeo dizendo que as pessoas estavam "muito críticas" e que ele é um "cidadão do bem". Em um outro vídeo, no Instagram, ele fala que quem está reclamando é  "o pessoal do mimimi ".

Claro que ele não vai parar de cantar. Agora, essas pessoas parecem esquecer que as lives atingem mais que o público normal que eles têm. 

Pelo que entendi, esse show "Cabaré", feito pela dupla com convidados, é tipo um papo de homens do passado, com esse tipo de piada antiga e um monte de gente achando graça. Tudo bem. Tem gente com cabeça antiga que gosta. 

O que eles esquecem é que a live (por mais que muitas sejam "caseiras", não foi exatamente o caso, já que eles tinham um cenário luxuoso) é um show aberto, para milhões. E na hora que você é visto por 9 milhões, têm que ter responsabilidade, sim.

O cantor não está sendo destruído nas redes ou "massacrado", está sendo criticado. Isso faz parte de quem fala com milhões. 

Fora isso, esses cidadãos do bem deveriam pensar um pouquinho: a live, transmitida às 20h para todo mundo com acesso à internet não é um cabaré em um clube fechado. Palavrões, cachaça, homem falando que está com "saudade de puteiro" (para depois fazer piada péssima com filho de prostituta) é o melhor que eles têm para oferecer?

Gustavo Lima x Conar

Essa não é a primeira live com super produção que dá problema. Gustavo Lima, amigo de Eduardo e Leonardo, fez uma live em abril também para milhões de pessoas e que arrecadou muito dinheiro em doações para o combate ao coronavírus. Mas acabou recebendo um monte de críticas e uma representação no Conar (Conselho Nacional Auto Regulamentação Publicitária) pelo excesso de bebida. Além disso, Gustavo foi acusado de furar o isolamento. Sua live foi mega produção – que teve até garçons! 

Na época, Gustavo Lima disse: "Acho que uma live engessada e politicamente correta não tem graça", escreveu em seu perfil no Twitter. "Não farei live pra ser censurado" postou. 

Ah, a live "Cabaré" não ficou muito atrás. Também teve anúncio de cachaça e mulheres seminuas dançando, em imagens projetadas.

Lives com frases bizarras. Vídeos de festas postados no Instagram com direito a um "f*da-se a vida" (caso da influencer Gabriela Pugliesi) mostram que alguns famosos já estão com dificuldades de se adaptar a essa nova realidade trazida pela pandemia…

Errata: diferentemente do publicado, a participação das dançarinas na live Cabaré foi feita por imagens projetadas, e não fisicamente.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.