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"Festa do corona" - por que as pessoas fazem isso? Psiquiatra responde

Nina Lemos

13/05/2020 04h00

Reprodução/ Instagram

Nos Estados Unidos, uma "moda" tem assustado as autoridades. São as "corona party" (festas do corona) feitas com o objetivo de… se contaminar. Pois é. A ideia de quem faz isso é "se contaminar de uma vez e "ficar livre do vírus".

Em algumas cidades americanas, inclusive, autoridades alertam que o surto piorou por causa desse tipo de festa. Detalhe importante: não existe garantia científica de que quem se contaminou coronavírus uma vez está livre de pegar de novo. Além disso, especialistas alertam que o vírus pode sofrer mutações.

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Essas festas, segundo médicos, acontecem também em vários lugares do mundo, inclusive no Brasil. Mas a modalidade mais conhecida da "festa do coronavírus" é marcar uma festinha com os amigos com o espírito "não estou nem ai" e contrariar a lei e as indicações das autoridades de saúde, que pedem que as pessoas não se reúnam e evitem sair de casa. As hashtags "coronaparty" e "covidparty" fazem sucesso no Instagram.

Semana passada, o humorista Carlinhos Silva, conhecido como "Mendigo" do programa Pânico, fez uma delas. Ele postou fotos da festa que fez no meio da pandemia em uma casa de luxo em Angras dos Reis (RJ) com a legenda  "Covid Party" (festa do covid). Em outra foto, escreveu: "Em casa com dez pessoas, conversando de boa e batendo um papo é sadio. Já se ligar o som nesse mesmo ambiente é megafesta, imprudência, irresponsabilidade, etc. Que eu viva e morra assim então, não festejando ou aglomerado, mas vivendo, sendo feliz diariamente…"

Sim, Carlinhos, juntar dez pessoas em casa nos dias de hoje é uma mega irresponsabilidade. Além de se arriscar (o que teoricamente é problema seu) você arrisca outras pessoas, não só quem está na festa. É tão difícil de entender que uma pessoa infectada em uma "festinha de dez pessoas" pode infectar mais dez pessoas que não estavam na festa — e algumas delas podem morrer?

"Ninguém sabe nada direito sobre o vírus, mas já sabemos que ele pode causar problemas graves e até morte em pessoas de qualquer idade. É uma roleta russa fazer uma coisa dessas", diz o psiquiatra Alexandre Saadeh, do Hospital das Clínicas. 

Segundo ele, quem faz esse tipo de coisa, está tentando, de um jeito perigoso, "lidar com a angústia que o vírus traz". "Todo mundo tem medo de pegar o vírus e ficar internado em uma UTI, de morrer. Elas fazem isso como uma maneira de ficar longe dessa angústia, ou de negar a gravidade da situação porque emocionalmente não estão preparadas", diz.

Ele lembra de outro tipo de festa que acontecia anos atrás, os eventos onde pessoas transavam sem camisinha com portadores de HIV para se contaminarem. "A ideia é a mesma, isso é pavor de lidar com a doença, é brincar com a própria vida", ele diz. No caso da Covid-19 é ainda pior, porque o índice de contágio do vírus é maior. 

Dança com caixão

Uma espécie de festa do coronavírus não menos bizarra aconteceu em Gramado, no Rio Grande do Sul. Em vídeo que circula nas redes sociais, garçons dançam como se estivessem carregando um caixão, fazendo uma dancinha da morte, no restaurante Divino Gastronomia. Os clientes do restaurante, sem máscara, riam, dançavam e tomavam champanhe.

Um desrespeito gigante com familiares de vítimas — no momento em que o Brasil registra mais de 11 mil mortos por coronavírus. O dono do restaurante se pronunciou em uma nota oficial, onde disse que ideia teria sido de clientes que pediram para os garçons fazerem isso na hora que o gerente saiu (que desculpa!) e, depois das críticas, pediu desculpas.

"Isso é patético, uma negação completa da realidade. Uma maneira de brincar, mas com o sofrimento das pessoas. Eles tentam fugir da gravidade da situação, mas agredindo os sentimentos dos outros", diz o psiquiatra Saadeh.

Alguns detalhes que devem ser lembrados. O coronavírus é novo, então, médicos não sabem ainda se quem contraiu pode ter efeitos colaterais para o resto da vida! Você, que se acha saudável e está brincando com isso, pode, sim, morrer. Ou ter um problema para sempre. Além de, claro, poder matar alguém. Sim, a frase é forte. Mas se você faz festas e sai por aí como se nada estivesse acontecendo, se algo acontecer, você não estará…. matando uma pessoa?

Não seja alguém que faça isso. E se ficar sabendo de alguma "festa corona" perto de você, denuncie. É muito sério.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.