Natura sobe na bolsa após Thammy: inclusão cresce e dá lucro no mundo todo
Nina Lemos
31/07/2020 04h00
Nos últimos dias, a marca Natura e o influencer Thammy Miranda estão sendo vítimas de uma campanha de ódio na internet. As reclamações (e também as manifestações de apoio) por ele ser um dos garotos propagandas da campanha de Dia dos Pais da marca não param. Pelo contrário, desde o fim de semana, quando a campanha foi divulgada, o ódio só aumenta.
No dia em que o Brasil atingia a triste marca de 90 mil mortes por Coronavírus, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, arrumou tempo para reclamar da propaganda. No mesmo dia, soubemos que a Natura, veja só, cresceu o valor na bolsa de valores depois da campanha. Ou seja, a confusão fez a marca lucrar.
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Alguém está surpreso? Vocês acham mesmo que a Natura não sabia disso?
Investir em diversidade, mais do que nunca, gera lucro. Mostrar representatividade é cada dia mais importante para as marcas. Isso porque, além do fato de venderem para pessoas de todas orientações sexuais, até heterossexuais estão cada dia mais abertos e comprometidos com a causa.
Uma pesquisa realizada pela empresa de comunicação americana Ketchum mostrou que a pandemia do Coronavírus está mudando os hábitos dos consumidores. Isso, junto com os protestos antirracismo, tem feito com que as pessoas queiram ainda mais ver mais marcas comprometidas com a diversidade. 74% dos pesquisados disseram que a preocupação com a inclusão (de negros, mulheres, gays, trans) era importante na hora de escolher uma marca.
Ah, mas os Estados Unidos é muito diferente do Brasil. Nesse ponto, nem tanto. No momento, os presidentes dos dois países são conhecidos homofóbicos.
Não é só a Natura
A minoria contra a inclusão é barulhenta. Mas nada que pare o movimento. Ao mesmo tempo em que a Natura causa essa comoção, outra gigante brasileira, a Casas Bahia, lançou uma campanha com o tema: "Nossa Casa é o Brasil. Nossa causa é o brasileiro." E lá está, no fim da propaganda, um casal gay trocando alianças e se abraçando.
A inclusão não é novidade nem no Brasil. O Boticário já causou escândalo ao colocar um casal gay no Dia dos Namorados pela primeira vez lá em 2015 e a Gol,no mesmo ano, que homenageou, no dia dos Pais, um casal gay que adotou dois filhos (alguém ousa dizer que eles não merecem?).
Quem quiser reclamar e chorar vai ter muito motivo. A Disney, por exemplo, está incluindo campanhas contra discriminação para crianças em seus canais. "Ah, eles vão fazer propaganda gay". Não, eles vão ensinar às crianças a aceitarem as diferenças e serem melhor que vocês, pais que reclamam desse tipo de coisa.
Em junho foi celebrado o mês do orgulho gay. O que aconteceu? As propagandas celebrando a população LGBTQI+ bombaram. Teve propaganda no intervalo de jogo de futebol, e de marcas gigantes, como Coca Cola, Colgate e Starbucks.
A pandemia do Coronavírus também fez com que marcas lançassem campanhas direcionadas para o público LGBTQI+. Em uma campanha da marca sueca Ikea, o tema é "se sentir em casa". No vídeo, emocionante, eles mostram um casal gay e fazem um apelo para que todos sejam aceitos do jeito que são, que se sintam em casa, que sejam tratados com respeito.
O assunto é importante, já que durante a pandemia, com lockdowns, muitos jovens LGBTQI+ que ainda moram com os pais enfrentam violência ou até foram expulsos de casa. Sim, isso acontece e precisa ser combatido.
Campanhas iguais às da Natura virão. E, repito, nem é porque as marcas são boazinhas, mas porque elas sabem que estar antenado e aberto gera dinheiro e confiança na marca. Não tem mais volta.
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.