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"Caetano e eu não brigamos nenhuma vez na quarentena", diz Paula Lavigne

Nina Lemos

21/08/2020 04h00

Paula Lavigne e Caetano Veloso

"Chata! Deixa o Caetano em paz." A empresária Paula Lavigne já se acostumou a ler esse tipo de comentário na internet. Eles aumentaram durante a quarentena, quando Paula passou a fazer vídeos que mostram conversas com o marido, com quem está trancada em casa há cinco meses. A empresária criou uma espécie de novelinha, que mostra o ídolo de pijama, lendo, comendo paçoca, um pouco da vida dos dois. Fez sucesso. E como muita coisa que Paula faz, causou polêmica.

Ela não liga para a "fama de chata" e já se acostumou. "Isso é normal, as pessoas pensam: quem é essa pessoa que está com ele? O que ela tem de tão especial? (risos). O que não entendem é que é que se eu ficasse babando o Caetano, falando que tudo que ele faz é lindo, sem dar opinião, ele não estaria comigo, né, gente?"

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Paula começou a fazer os vídeos de brincadeira. Em boa parte deles, insistia para que Caetano fizesse uma live. Como costuma acontecer na maioria das vezes na vida dessa ariana teimosa, Paula conseguiu.

 

A live, exibida no dia 7/8, no aniversário de 78 anos de Caetano, foi um sucesso. E, claro, os comentários mudaram. Depois de meses sendo chamada de chata, Paula passou a receber agradecimentos dos fãs. Ela se diverte com isso. "O Caetano é mais passivo. Não com a criação, mas com a realização, de ir lá e fazer as coisas. Lembro que uma vez ele me disse: queria tanto fazer um show com Jaques Morelenbaum, mas ele toca com o Tom Jobim. Eu disse: 'mas, gente, o Tom Jobim faz pouco show'. Liguei. O Jaques quis, claro." 

Ela conta que Caetano não tem nem celular. "Nunca teve, não liga, não quer entender. Eu tenho dois. Um é só para mostrar as coisas para ele. Senão, mostro algo, ele fica olhando, e eu nervosa querendo meu celular", conta, aos risos. 

Agora, Paula pensa em fazer uma live de apoio a Guilherme Boulos, candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL. Mesmo trancada em casa, Paula não pára. E foi entre um compromisso e outro que ela conversou com o Universa. Leia trechos da entrevista abaixo.

Como surgiu a ideia de fazer uma espécie de seriado com o Caetano na quarentena?
Foi muito espontâneo. Estávamos isolados, todo mundo em casa… As pessoas prestaram atenção e repercutiu. Você viu no dia que o Caetano quis bater papo de Nietzsche e Heidegger comigo? (risos)  Eu falei, gente, não dá! Liga para um amigo seu! (risos)

Muita gente te vê nos vídeos como uma chata que pega no pé do Caetano. Como você lida com isso?
Vou ser sempre a chata, né? Eu fico com o trabalho "sujo", sou a produtora, tenho que organizar, falar não. No caso dos vídeos da live, foi sem querer. Eu não tinha o que postar nas nossas redes sociais, estava entediada. Era só eu e o Caetano, ele de pijama o dia inteiro, um olhando para a cara do outro, o que eu poderia fazer? Agora estou achando engraçado as pessoas me falando  "faz a live da Bethânia", "faz a live da Gal". (risos) Só que eu não vou conseguir porque não tenho tanta convivência para convencer como tive com o Caetano. (risos)

Você tem dedicado boa parte do seu tempo ao ativismo. Como tem sido esse ativismo dentro do governo Bolsonaro?
Sempre tive um ativismo mais voltado para a minha área, de música e cultura. Quando veio o golpe,  senti que era minha obrigação ampliar isso. Vários outros artistas também queriam se manifestar, então criamos o 342 Artes e foi bem bacana. Agora, com o governo Bolsonaro, o desmonte da cultura é tão grande que a gente nem consegue olhar para outras áreas, como o racismo, a questão ambiental. Temos que ficar militando na área da gente o tempo todo. É a Cinemateca, é a Casa de Rui Barbosa… Até com os direitos autorais eles querem mexer! E não estou falando de Lei Rouanet não, mas de direitos autorais – já querem passar uma lei para tirar dinheiro da gente. Então, está muito difícil. Estou com mixed feelings. Tem dias que estou animada, falando "vamos lá, vamos lutar", e em outros eu me sinto derrotada. Tenho dias melhores e dias piores…

Como está sendo a sua rotina? Você sempre malhou muito, está conseguindo manter isso na quarentena?
Sempre malhei. Agora tá todo mundo rindo de mim porque eu malho trabalhando com o celular na mão. (risos) Eu sento na bicicleta e começo a resolver a minha vida, já respondo whatsApp, e-mail… Preciso da endorfina. Manter a minha rotina de exercícios durante a quarentena para mim é o mais fácil.

Ficar trancada com o marido por cinco meses em casa é uma loucura. Você e o Caetano têm brigado muito?
Pode ser que ninguém acredite, mas o Caetano e eu ainda não brigamos nenhuma vez durante a quarentena. A gente até brinca com isso. Falamos que é instinto de sobrevivência! (risos)

Você foi avó recentemente (Benjamim, filho de Tom Veloso, nasceu dia 14 de maio). Em um dos vídeos, você disse que era contra sua nora ter um parto em casa. No fim, o que achou disso?
Essa coisa do parto em casa foi mais um preconceito vencido. Eu sempre falei: 'que absurdo, parto em casa, a ciência já evoluiu tanto!' O Caetano sempre defendia, falava: "imagina, eu nasci em casa." Quando nasceu eles mandaram foto para a gente e eu fui lá ver (depois de fazer teste para o Coronavírus, "Cada vez que fui ver meu neto fiz teste. O Tom é super cuidadoso com isso, e está certo"). Achei tudo maravilhoso! Eles deixam uma ambulância de plantão, para se desse algo errado. No meio da pandemia, então, foi perfeito! O Benjamim é um menino sorridente, é a maior alegria da minha vida. Acho que isso também tem a ver com o parto, com a tranquilidade com que ele veio ao mundo. Agora, defendo muito esse tipo de parto em casa. 

O que mudou em você com a pandemia?
Tenho pensado umas coisas assim: "como a gente é exagerado, né?" Hoje olho para o meu closet e penso: "para que tanta coisa?" A gente vê, não pode sair, não troca de roupa e tudo bem. Eu aprendi a pintar o cabelo, como várias pessoas. Tem que aguentar, a gente aguenta. Saio dessa pandemia muito mais desapegada. Se me falassem que eu iria ficar cinco meses trancada, eu diria que não aguentaria. Mas estou aguentando. Estou surpreendida positivamente comigo. 

Li que você agora pensa em fazer uma live em apoio ao Boulos.
Estou muito engajada nas campanhas de Manuela D'Ávila e Guilherme Boulos [pré-candidatos à prefeitura de Porto Alegre (RS) e São Paulo (SP), respectivamente]. Colaborar com música é natural para mim, então, fiz uma consulta ao Tribunal Eleitoral para saber se posso fazer uma "live mício". Estou torcendo muito que dê certo.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.