Nina Lemos http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco. Wed, 16 Sep 2020 21:07:29 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 “O ódio é regado pelo ódio”, diz padre Julio Lancellotti sobre ameaças http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/o-odio-e-regado-pelo-odio-diz-padre-julio-lancelotti-sobre-ameacas/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/o-odio-e-regado-pelo-odio-diz-padre-julio-lancelotti-sobre-ameacas/#respond Wed, 16 Sep 2020 17:39:02 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=5072

Foto: Ricardo Matsukawa (UOL)

“Seu padre f. da puta, defensor de nóia.” Padre Julio Lancellotti, conhecido pelo seu trabalho de apoio aos mais vulneráveis (no momento ele é coordenador da Pastoral do Povo e trabalha com a população de rua de São Paulo) estava trabalhando ontem no centro de convivência São Martinho, ao lado da igreja que comanda, quando ouviu essa ameaça. “Era um cara em uma moto, uma dessas vespas. Depois de gritar isso para mim, ele disse para um grupo de catadores de papel: “vou voltar para queimar vocês.”

A ameaça levou o padre a gravar um vídeo no qual, acompanhado de moradores de rua, narra o ocorrido e diz: “se alguma coisa acontecer comigo, vocês sabem de quem cobrar.”

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O ataque acontece depois do deputado estadual e candidato a prefeito Arthur do Val (Patriota), conhecido como Mamãe Falei, publicar no seu perfil do Twitter que padre Julio seria um “cafetão da miséria” e que teria um dossiê contra ele. Ontem, o padre registrou uma ocorrência na delegacia.

“Vivemos um tempo de polarização e de ódio”, ele diz, em entrevista para Universa. “Não estou falando que o deputado vá fazer algo contra mim, ele não vai. Mas quando ele fala uma coisa dessas, alimenta o ódio contra mim.”

 Leia trechos da entrevista:

O que levou o senhor a gravar um vídeo e ir a uma delegacia registrar ocorrência?
Padre Julio Estava trabalhando na São Martinho, onde servimos almoço, e passou um sujeito em uma moto e gritou: “seu padre filho da p. seu defensor de nóia, você vai ver.” E seguiu falando impropérios. Na sequência, disse para um grupo de catadores de papel: “vou voltar e queimar vocês.” Isso aconteceu depois do candidato me atacar na internet, dizer que eu era “cafetão da miséria”. A preocupação não é que o deputado vá fazer alguma coisa. O problema são seus apoiadores. Ele pode estar dando ideia para um desequilibrado. E está fomentando o ódio.

O ódio é uma semente que cresce em qualquer solo. Você rega com mais ódio. É isso que faz o ódio crescer. Vivemos um clima tenso de polarização. Eles podem plantar fake news, inventar que eu sou traficante. E podem acreditar. Quando quem fala é um youtuber ou o presidente da República, muitas pessoas acreditam, já que essa fala vem de um lugar de privilégio. Quando o presidente disse que as pessoas tinham que cobrar de quem tinha falado para ficar em casa, estava falando de quem? Quem falou para ficar em casa? Eu, os jornalistas, algumas Igrejas, os líderes comunitários…

O senhor já recebeu ameaças antes?
Padre Julio Já recebi muito ataque na internet, por telefone, na rua. São centenas. Já vi campanhas com o tema: “morte ao Padre Julio”. Uma vez estava no hortifruti onde compro uma sopa para levar para casa depois do trabalho e uma senhora me disse: “padre, você fica defendendo bandido, nós vamos te matar.” Eu disse para ela: “então vai ser muito fácil, já que não uso colete à prova de balas.” Está tudo no Ministério Público. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos mandou uma medida cautelar para o governo brasileiro, falando que precisavam investigar ameaças e me proteger. Queriam colocar escolta. Eu não quis. A proteção que eu quero é que os irmãos de rua não sejam torturados, que eles não sejam espancados. Aí, sim, vou poder parar. Enquanto isso não acontecer, não vou ficar em casa protegido com escolta.

Depois de registrar a ocorrência o senhor recebeu muitas mensagens de solidariedade, não?
Padre Julio Ah, sim. A onda de ódio gerou uma onda de solidariedade muito forte. Acho que marcou muito o fato de eu ter 71 anos e ser uma pessoa que mesmo assim está na linha de frente. 

Como está sendo seu trabalho durante a pandemia?
Padre Julio Houve um momento geral de solidariedade. Pessoas passavam em frente à paróquia e acenavam. Foi muito bonito. Aconteceram coisas muito fortes. Trabalhávamos das 7h às 21h e em algumas horas eu entrava na cozinha da igreja para descansar. Um dia, me chamaram: “tem uma pessoa que quer falar com você”. Era um rapaz que parecia ser morador de rua, com roupas muito simples, que me disse: “isso aqui é para o senhor”. E me deu um cheque. Quando vi, era um cheque de 3 mil reais. Disse para ele: “você não pode me dar isso.” Ele insistiu. Tempos depois depositei o cheque,  achando que não teria fundo, mas ele foi compensado. Outra vez, um catador de papel me deu uma nota de 50 reais. Expliquei que não era para me dar, que poderia guardar para ele. Ele respondeu: “não, não tenho ninguém, quero dar para você”. Isso me emociona.

Claro que também aconteceram desencontros. A população de rua é parte da sociedade e tem de tudo: gente que não quer usar máscara, que temos que explicar da importância… Só não tem gente que superfatura respirador ou adultera álcool-gel para vender mais. Isso eu te garanto que não tem.

Como está seu trabalho agora?
Padre Julio Quando as pessoas voltaram a trabalhar, o comércio reabriu e os ataques também voltaram. Passamos a Partilha, o ato de servir alimentos para a população de rua, para o São Martinho. Com a abertura, muitos voluntários voltaram a trabalhar. Então, eu não tenho mais, por exemplo, restaurantes me ajudando. Mas com doações conseguimos fazer muita coisa. Outro dia consegui comprar mil bermudas. Comprei também calcinhas e cuecas para doar para os moradores, assim como sabonete. Essas pessoas quase nunca ganham peças novas. A alegria deles de ganhar peças íntimas novas foi imensa!

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Cortes na Globo miram veteranos: vão trocar Glória Menezes por duas de 25? http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/cortes-na-globo-miram-veteranos-vao-trocar-gloria-menezes-por-duas-de-25/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/16/cortes-na-globo-miram-veteranos-vao-trocar-gloria-menezes-por-duas-de-25/#respond Wed, 16 Sep 2020 07:00:16 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=5058

“Não vou parar nunca, aposentadoria é um horror.” A frase foi dita esse semana pela atriz Laura Cardoso, ao completar 93 anos. Sua colega Fernanda Montenegro, 91, concorda e exibe a mesma disposição. No fim do ano passado, ao fazer um balanço do ano em que fez 90, ela disse: “Espero descansar um pouco. Este ano eu trabalhei muito. Foi um dos anos em que eu mais trabalhei”.

Fernanda não cumpriu seu plano. Veio a pandemia, tivemos que ficar trancados em casa. Mas, nem isso fez a atriz descansar. Ela foi lá e gravou uma minissérie com a filha.

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Algumas pessoas amam o que fazem e não querem parar. Nunca. Mais que isso, muitas pessoas precisam continuar fazendo o que gostam para continuarem vivas e bem.  A maioria delas, inclusive, fica mais genial com o tempo. Acontece assim com os escritores, por exemplo. Ou você já ouviu alguém falar que não escrevia mais por “não ter mais idade para isso”? Ou você deixou de comprar o livro de algum autor porque “ele estava velho?.°

Não é porque temos uma idade “x” que queremos parar. E, no caso de atrizes e atores geniais, bem, a sorte é nossa, né? Que bom que podemos ver o trabalho dessas pessoas pela televisão, cinema, teatro. São pessoas que vemos desde crianças. Queremos que eles parem? Claro que não. 

Será que alguém quer?

Bem, a situação está longe de ser boa para os atores mais velhos no Brasil. E agora atinge também os mais “estrelados”. Semana passada, soubemos que a TV Globo não renovaria contrato com Tarcísio Meira, 84 anos, e Glória Menezes, 85. Ontem, foi a vez de Antônio Fagundes, de 71 anos. 

Não renovar contrato é uma outra palavra para “demitir”. Explico: ter contrato fixo com a Globo significa ter um salário, todos os benefícios mesmo quando não se está trabalhando, em nome da exclusividade. Nos últimos tempos, a emissora  tem mudado seus regimes de contrato. Grande parte dos novos contratos é por obra fechada, ou seja, o funcionário ganha, por exemplo, enquanto uma novela está sendo feita. Ok. Mas será que a empresa precisava implementar isso demitindo pessoas de mais de 70 anos? E será que eles vão continuar no ar?

Tomara que sim. Para isso, atores e atrizes da Globo, capitaneadas por outras veteranas mais jovens como Glória Pires, de 57 anos, passaram a postar a hashtag: “Eu quero veteranos na TV”. Bem, também quero. Assino embaixo. Mas não é triste que a gente tenha que pedir isso? Se não tiver pressão, as pessoas com 50 anos de profissão vão simplesmente deixar de ter espaço? Vão ser trocadas por duas de 25 (de idade, no caso, já quer uma atriz com 25 anos de carreira também pode ser “velha demais”?). 

Ver essa foto no Instagram

 

#euqueroveteranosnatv

Uma publicação compartilhada por Gloria Pires (@gpiresoficial) em

Talvez isso não te comova. Mas fica uma dica: ou a gente luta contra o etarismo ou isso um dia vai acontecer com você também. Todo mundo envelhece (a não ser quem morre jovem, que não é o que queremos). Já pensou chegar aos seus 80 anos e ser descartada? Ninguém merece…

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Kate Winslet se desculpa por filmes com Polanski e Woody Allen. Precisava? http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/15/kate-winslet-se-desculpa-por-filmes-com-polanski-e-woody-allen-precisava/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/15/kate-winslet-se-desculpa-por-filmes-com-polanski-e-woody-allen-precisava/#respond Tue, 15 Sep 2020 07:00:38 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=5050

Os dois são diretores de cinema geniais, mas são, também, acusados de abuso. Woody Allen é acusado de ter estuprado sua filha adotiva, Dylan Farrow, quando ela tinha sete anos. Roman Polanski foi indiciado nos Estados Unidos em 1977 pelo estupro de uma menina de 15 anos. Ele foi acusado mais duas vezes, em 2017 por crimes que teriam acontecido nos anos 70. 

A atriz Kate Winslet já trabalhou com os dois. Com Polanski, em 2011. Com Woody, em 2017. Até aí, normal, muitas grandes atrizes também já fizeram filmes com eles. A novidade é que Kate, em entrevista à revista “Vanity Fair”, fez um longo “mea culpa” por já ter trabalhado com eles. 

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“Eu tenho que assumir a responsabilidade com o fato de que eu trabalhei com os dois”, disse a atriz. “Não posso voltar no tempo, então tenho que lidar com essa dor”, completou. Ela disse ainda que em muitos momentos se pega pensando no fato de ter trabalhado com os diretores, ou seja, se culpando. 

Homens acusados de abuso existem em todas as profissões, infelizmente. Pode sim, acontecer que a gente trabalhe com um deles. Todas que já trabalhamos muito e com pessoas diferentes já vimos, no mínimo, homens adotando atitudes suspeitas em relação a mulheres. Podemos decidir não trabalhar mais com eles, alertar outras mulheres, temos mil opções para lidar com isso. Agora, se culpar?

Já vi mulheres se desculparem pelo abuso dos maridos (e não, elas não têm culpa disso!), agora, vamos nos desculpar também pelo que as pessoas com quem trabalhamos fizeram? No caso, se os dois diretores são de fato abusadores (eles negam), ela deveria é se sentir aliviada por não ter sido, ela, outra vítima.

Kate não é a primeira a pedir desculpas por ter trabalhado com Woody Allen. Em 2018, Mira Sorvino escreveu uma carta aberta para Dylan Farrow dizendo que estava “terrivelmente arrependida”. 

Mira Sorvino foi uma das maiores vítimas do produtor Harvey Weinstein. Em depoimento à reportagem que desmascarou o produtor, ela conta uma história pavorosa de abuso e de como teve sua carreira destruída depois de dizer não para o então poderoso diretor.

É possível que depois de fazer a denúncia, ela tenha se sentido com o peso da responsabilidade de ser contra todos os abusos. Faz todo sentido. Mas longe de ser culpada. Muito menos por ter feito um filme em 1995! 

As denúncias de abuso crescem em todas as áreas. E isso é ótimo. Tomara que todos os abusadores sejam denunciados. Mas vamos esperar que não haja, junto a isso, sempre uma leva de mulheres pedindo desculpas por já ter trabalhado, ter sido amiga ou casada com o abusador. Não fomos nós que cometemos o crime. E, no caso, se escapam ilesas, somos sobreviventes, isso sim. Levar a culpa dos outros, eu, hein! 

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5 lições de “O Dilema das Redes”, doc que mostra o vício nas redes sociais http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/14/5-licoes-de-o-dilema-das-redes-doc-que-mostra-o-vicio-nas-redes-sociais/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/14/5-licoes-de-o-dilema-das-redes-doc-que-mostra-o-vicio-nas-redes-sociais/#respond Mon, 14 Sep 2020 17:15:42 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=5042

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Você tenta largar o vício, mas não consegue. Quanto mais você usa a droga, mais seu “traficante” fica feliz. Quando tenta parar, ele te seduz com outro produto mais forte. E quais são os efeitos adversos dessa droga? Depressão, suicídio, baixa autoestima e por aí vai. 

Não estou falando de heroína ou cocaína, mas do Facebook, Instagram, Google e Twitter. Todas aquelas redes em que passamos horas por dia. Estamos todos viciados e sendo manipulados. E, o pior, esse deve ser um caso raro de vício que engloba toda família, já que nossos pais também estão viciados, assim como nossos avós e nossos filhos pequenos.

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Eu não estou exagerando. E por isso você tem que ver o documentário “O Dilema das Redes”, que está disponível na Netflix. No filme, ex-chefes e criadores das redes sociais mais poderosas do mundo explicam como nos viciamos, como somos manipulados por sistemas que eles mesmos criaram e nos alertam, praticamente imploram, para que a gente aja e faça algo. Se você não viu, destaco alguns pontos para que você fique esperto. Se somos todos viciados, pelo menos vamos ser viciados com consciência…

1. Admita o vício: Uma das coisas que fazem a gente levar a sério o que vemos no filme, é que elas não são ditas por teóricos ou palpiteiros, mas por executivos das redes sociais. Tim Kendall, ex-executivo do Facebook e ex-presidente do Pinterest conta que, uma época, chegava em casa do trabalho e não conseguia largar o celular. “Eu tentei me reeducar. Como não funcionou, tive que partir para a força bruta.” Outro executivo teve que criar um software para largar o vício.  Uma frase do filme diz tudo: “as redes sociais e os traficantes de drogas são os únicos negócios que não chamam os consumidores de clientes, mas de usuários.”

2.Entenda como a droga funciona: “As redes sociais funcionam como caça-níqueis de cassino. Todo o design é feito para te viciar, ” diz Tristan Harris, ex designer e executivo do Google. Então, nada ali é por acaso. As redes possuem todos os seus dados e fazem o máximo para te prender. O objetivo é te deixar o maior tempo possível online. O que conta para eles é isso, o chamado engajamento. Se você passar mais tempo, vai ver mais anúncios e é isso que os fazem lucrar. Assim, eles vão te sugerir vídeos, por exemplo, que sabem que são do tipo que você vai passar horas vendo. 

Isso significa que você vai ser exposto também para coisas que te fazem mal. Eu, por exemplo, gosto de ouvir músicas tristes dos anos 80 durante a TPM. Depois que ouço uma do  “The Cure”, outras músicas tristes vão aparecer como sugestão (testei, é isso mesmo). Assim, talvez eu não melhore e passe o dia todo dentro de casa chorando. Ruim para mim, mas bom para o Youtube, já que vou passar o dia todo conectada e consumindo anúncios entre as músicas.

3. Proteja suas crianças No filme, o executivo Tristan Harris lembra que, quando o assunto é televisão, por exemplo, tudo é regulamentado, a população pode pressionar os governos para que publicidades não sejam exibidas etc. E aí, seu filho está vendo propaganda enquanto assiste a vídeos no TikTok  ou no Youtube. Será que isso vai fazer bem para eles? O pesquisador Jonathan Haidt, PHD em psicologia social,  chega a relacionar o aumento de número de suicídio entre adolescentes com a popularização das redes sociais. Apavorante. Todos os pesquisadores e ex executivos regulam o tempo usado pelos seus filhos em redes sociais e recomendam que você faça o mesmo. Também recomendam que um jovem não use redes sociais antes dos 16 anos.

4.Esteja atento aos efeitos colaterais Segundo os executivos e entrevistados do filme, um dos efeitos colaterais mais sérios das redes é a popularização das fake news. Em um momento como o de agora, por exemplo, em que vivemos uma pandemia mundial, as notícias falsas podem matar, quando, por exemplo, alguém compartilha vídeos falando que máscaras não funcionam. Segundo eles, os donos das redes não estão nem aí, só querem lucrar com nosso tempo conectado. Eles também acreditam que a proliferação de fake news e a polarização política criada pelas redes ajudou a eleger líderes populistas, como Jair Bolsonaro.

5-Largue o vício? E agora? Bem, eles não têm exatamente a resposta, mas não são nada otimistas. Há quem fale que devemos largar imediatamente todas as redes sociais. Como sei que não vamos fazer isso… bem… Uma dica que eles dão é tirar todas as notificações do celular (porque não tem como ver uma notificação de que, por exemplo, alguém curtiu uma foto sua) e não correr para ver. Outra é não assistir vídeos sugeridos, não abrir anúncios. Vai adiantar? Vamos conseguir? Não sei. Mas a gente tem mesmo que saber que estamos viciados e ferrados. Dizem que admitir o vício é a primeira parte. Pois é, estamos todos viciados. E ferrados.

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Oscar lança plano de diversidade e cria pânico em Hollywood. Por quê? http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/11/oscar-lanca-plano-de-diversidade-e-cria-panico-em-hollywood-por-que/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/11/oscar-lanca-plano-de-diversidade-e-cria-panico-em-hollywood-por-que/#respond Fri, 11 Sep 2020 07:00:08 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=5032

Imagem: Frederick M. Brown/Getty Images/AFP

“Quando ganhei o Oscar, pensei, nossa, todos esses roteiros maravilhosos virão para mim. Não foi o que aconteceu. Tive até menos propostas. Acho que não havia lugar para alguém como eu.” A declaração foi dada essa semana pela atriz Halle Berry para a revista Variety. Halle é a única mulher negra a já ter ganho o prêmio de Melhor Atriz. E olha que isso foi em 2002. “Isso me corta o coração, achei que tinha aberto uma porta. E então não houve mais ninguém”, disse. Absurdo? Claro.

Essa semana, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas americana anunciou um plano ambicioso para tornar a premiação mais famosa do cinema mais inclusiva e diversa, que vai valer a partir do Oscar de 2024.

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O que antes era colocado para baixo do tapete, agora causa indignação. Em 2016, nomes importantes do cinema como Spike Lee anunciaram um boicote ao prêmio, que, desde então, tenta ser mais diverso.

Mas os anúncios de mudanças no Oscar causaram pânico em Hollywood. Atores como James Wood e Kirstie Alley falaram em “loucura”. A atriz chegou a dizer que as medidas eram ditatoriais e “anti-artista”. Muitos falam que esse é o fim da criatividade e dos bons tempos de Hollywood. “O Oscar foi arruinado”, “isso é uma loucura”. Claro, quem reclamou era … branco e americano. Logo, nunca sentiu na pele a falta de representatividade ou de trabalho, coisa que até uma vencedora do Oscar, como Halle, sente.

A partir de 2024, para concorrer à categoria de melhor filme (e só essa) terão que obedecer a certos fatores. Primeiro, os filmes tem que se enquadrar em uma das duas categorias a seguir:

Contar a história sobre uma mulher, pessoas com deficiência, ter temática racial ou LGBT. Ou ter um ator em um dos papéis principais que seja de um grupo étnico sub “representado” (negro, hispânico, oriental, indígena… ). Se o filme não se encaixar nessas duas, ainda pode ter 30% dos atores que sejam desses grupos pouco representados. Atenção, o filme não tem que obedecer a TODOS esses critérios, mas apenas a UM deles.

Outras mudanças obrigam que as produções empreguem mais mulheres, pessoas com deficiência, imigrantes e LGBTS, inclusive em cargo de comando. Para isso, as produtoras devem incentivar a formação desses profissionais.

Bem, olhando isso, não parece que o Oscar, como dizem alguns, será arruinado, certo?

Pelo jeito, os produtores milionários vão ter só que trabalhar mais um pouquinho e sair da acomodação. Não é possível que ter mais mulheres, imigrantes e LGBTs em um filme vá… arruiná-lo. Calma, gente.

Agora, será que vai resolver? Ou será que as produtoras vão dar truques para tentar cumprir o protocolo? Mulheres, negros e outras “minorias” serão colocados nas produções só para disfarçar ou terão trabalho de verdade? Não sabemos.

Fato: as indústrias mais poderosas do mundo já perceberam que representatividade importa e traz lucros. Os responsáveis pelo Oscar não estão fazendo isso porque são bonzinhos, mas porque querem continuar lucrando e de adaptando. Mas… melhor assim, não?

Falando nisso, bem que as TVs brasileiras poderiam olhar para esses exemplos e passar a dar mais espaços para gays, trans e negros, indígenas. Qual foi a última novela que você assistiu que era protagonizada por uma pessoa negra? Não lembra? Nem eu.

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Michelle já quis jogar Obama pela janela. Casados em isolamento entendem http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/10/michelle-ja-quis-jogar-obama-pela-janela-casados-em-isolamento-entendem/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/10/michelle-ja-quis-jogar-obama-pela-janela-casados-em-isolamento-entendem/#respond Thu, 10 Sep 2020 07:00:36 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=5007

Reprodução
“Houve momentos em que eu quis jogar o Barack pela janela.” A declaração foi dada por Michelle Obama, ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Sim, ela falava sobre o ex-presidente, com quem é casada há 28 anos. Michelle e Barack Obama formam um casal estável e querido no mundo todo. Mas a vida real não é uma propaganda de margarina. E Michelle faz um baita serviço ao deixar isso claro.

Michelle fez a revelação (que não surpreende ninguém que seja casado há mais de cinco anos) no “The Michelles Obama Podcast”, programa de áudio que mantem desde de julho desse ano e recebe convidados para falar de assuntos como política, relacionamento e racismo.

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Nesse episódio recente, Michelle falava sobre casamentos e deu seu exemplo pessoal. “Falo isso [que já quis jogar o marido pela janela] porque você precisa saber que os sentimentos vão ser intensos. Mas isso não significa que você deva desistir.” Para quem acha que esse momento dura alguns dias e é raro, Michelle deu a real: “Essas fases podem durar um bom tempo. Podem durar anos”, declarou.

Obviamente nem Michelle, nem eu, estamos fazendo apologia da violência doméstica e sugerindo que alguém seja literalmente defenestrado. Em caso de qualquer ameaça, busque ajuda e chame a polícia.

O ponto aqui é que mesmo nos relacionamentos mais saudáveis dividir uma casa com alguém, uma vida, filhos, não é fácil. Em tempo de quarentena, então, é quase impossível. Por isso, a mensagem de Michelle não podia ser mais oportuna.

Nenhuma pessoa casou pensando em ficar trancado 24 horas com outra. No caso do Brasil, tenho muitas amigas e amigos que estão trancados com os parceiros há seis meses. Muitos deles têm filhos em idade escolar. E, claro, os filhos não estão indo a escola. Não, ninguém pensa em constituir família pensando que terá que conviver com o parceiro e os filhos 24 horas por dia em casa. Tenho certeza que essas pessoas já tiveram vontade também de jogar os filhos pela janela. No meio do isolamento, quem não se trancou no banheiro para ficar sozinho ?

Bem, nessas horas, quem pegou o telefone (que é o que todos fazemos atualmente) deu de cara com imagens de famílias vivendo o idílio, fazendo pão, tomando café da manhã junto. Os namorados e maridos das conhecidas e famosas parecem até Rodrigo Hilberts, montando o próprio forno para depois fazer a própria pizza. Atenção: aquilo ali não é a real. Ninguém posta a hora da briga e nem o momento em que está trancado no banheiro querendo escapar de todos.

“Em qualquer relacionamento tem hora que não suportamos o outro”, diz a realista Michelle, jogando a realidade na cara dos muito românticos.  É verdade. E mais vale a gente assumir isso do que ficar: 1. culpada. 2.  achando que só acontece com você. No caso, lembre, você também é insuportável de vez em quando. Todo mundo é.

Claro que não existe fórmula do tipo: “como salvar seu casamento na quarentena.” Todas elas são mentirosas. Mas saber que esse tipo de coisa acontece com todo mundo ajuda. E muito.

Essa não é a primeira vez que Michelle presta um serviço na quarentena. Recentemente, ela contou que passa por momentos “próximos a depressão” durante a pandemia e também por conta dos conflitos raciais nos Estados Unidos. Se todas as celebridades fossem como Michele,  e não ficassem,  por exemplo, dizendo o quanto são “gratos ao momento mágico do isolamento”  esses dias pesados (em todos os sentidos, não só no caso dos relacionamentos) não seriam melhores. Mas sem cobrança de estar bem o tempo todo, talvez eles fossem mais fáceis…

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Biel em A Fazenda: por que acusados de assédio vão para reality shows? http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/09/biel-em-a-fazenda-por-que-acusados-de-assedio-vao-para-reality-shows/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/09/biel-em-a-fazenda-por-que-acusados-de-assedio-vao-para-reality-shows/#respond Wed, 09 Sep 2020 07:00:24 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=4997 Reprodução Instagram

Quer participar de um reality show? Se você for um cara conhecido por ser acusado de abuso e ameaçador de mulheres, talvez você tenha chance. É que esse perfil “boy lixo abusador” é um dos nichos dos realitys. Pode reparar. Se você for acusado de bater em uma mulher ou abusar, as chances sobem. Prova? o cantor Biel, está na nova edição de A Fazenda, que começou ontem. Mesmo antes do programa ele já um dos “destaques” do reality, por ser um dos assuntos mais comentados. Todos falam disso. Até eu, aqui nesse texto.

Biel, para quem não sabe, já foi processado por dizer para uma jornalista: “se eu te pegar, te quebro no meio”. Depois disso, saiu do país. E o que aconteceu? Foi acusado de bater na ex.  Ele também já foi acusado de racismo e homofobia.

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Como pode um cara com essas ficha corrida estar na TV, inclusive disputando um prêmio em dinheiro? Resposta: audiência para o programa e engajamento nas redes, com, por exemplo, pessoas revoltadas contra o fato de um cara desses estar na TV fazer campanha nas redes para que ele saia. 

A lógica do falem mal, mas falem do programa, é super usada em realitys. E, posso não concordar, mas entendo. Enquanto várias mulheres estiverem reclamando do comportamento de um participante na casa, mais gente vai votar, falar do programa. Sabe engajamento em rede social? Pois é.

Mais uma prova de que Biel é um dos destaques, quase um “intocável”. Depois que a entrevista com Leo Dias vazou, algumas pessoas comentaram que talvez ele fosse desclassificado do programa por ter desobedecido uma regra (participantes não podem dar entrevista antes de entrar na casa falando sobre a participação no jogo). Não foi. Surpresa? Nenhuma.  

 Na lista dos participantes, Biel é um dos poucos que “quase todo mundo” sabe que é. E o motivo não é, como disse o cantor para o colunista Leo Dias, o fato dele estar perto de se tornar  “o maior artista” do Brasil (ah, a autoestima do homem hétero). Mas o fato dele ter sido acusado por duas mulheres desses crimes: abuso e agressão.

Nessa entrevista, Biel também reclama muito sobre os momentos difíceis que passou. E diz que foi vítima. Apesar de dizer que foi educado em uma sociedade machista, não pede desculpas. No caso da jornalista, diz que fez uma piada. No caso da ex, disse que “foi vítima de tudo no processo”. E, no fim, garante que vai participar da Fazenda para mostrar quem ele é de verdade e fala que, apesar de ter sido criado em uma sociedade machista, hoje está mudado.

Biel não é o primeiro (nem deve ser o último) a ganhar essa chance de se redimir na televisão e com cachê pago. Marcos Harter, expulso do BBB17 depois de acusações de agressão. No mesmo ano, ele participou do “A Fazenda Nova Chance”. Ficou em segundo lugar. 

Pode ser que Biel seja um cara legal, que todas as acusações contra ele sejam acidentais, uma espécie de má sorte? Difícil, mas até pode. Em todo o caso, olha o tamanho do privilégio: ele vai ganhar um programa de compensa. E, se seguir os passos de Marcos Harter, pode até ser bem sucedido e ficar entre os finalistas.  A mensagem que fica é: ser acusado de agredir uma mulher nem é algo ruim ou sério. É algo que compensa, que dá popularidade. Isso é trágico.  Mas é também uma aula de como funcionam os tais privilégios…

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Ostentação: famosos esqueceram que dá para ir à praia e não postar? http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/08/ostentacao-famosos-esqueceram-que-da-para-ir-a-praia-e-nao-postar/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/08/ostentacao-famosos-esqueceram-que-da-para-ir-a-praia-e-nao-postar/#respond Tue, 08 Sep 2020 07:00:14 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=4985

No feriado prolongado, mais uma vez as praias ficaram cheias, para choque geral, já que estamos no meio de uma pandemia e todos os médicos dizem para praticar distanciamento social e usar máscara. Mas, com esforço, até dá pra entender quem não aguenta mais ficar em casa e vai à praia dar um mergulho. Assim como dá para entender quem está há meses isolado e fica com raiva ao ver as fotos de fazer inveja.

O que não dá para entender é influencer com milhares de seguidores postando foto na praia, sorrindo, ostentando e dando esse exemplo.

Durante esse fim de semana, muitos famosos exibiram suas felicidades sob o sol nas redes sociais. Alguns deles, dá para imaginar, talvez até tenham reclamado das praias lotadas. Eles, afinal, são ricos, podem ir a praia vazias, distantes.

Se é errado quem pode viajar, pegar uma lancha que seja, um jatinho e ir para uma praia no meio do nada aproveitar um dia de sol? Claro que não! Inclusive, acho que todos faríamos o mesmo se pudéssemos. Agora, precisa mesmo postar e mostrar para todo mundo? Não dá para fazer e simplesmente não postar? Ou todos esqueceram que isso ainda é possível?

Em tempos de obsessão por rede social, se você não posta, não acontece. E é difícil mesmo entender que às vezes não pega bem postar, como nesse momento em que vivemos. Por isso, famosos com milhões de seguidores curtiram um fim de semana de sol. E, o que fizeram? Eles mesmo postaram, autodenunciando a quebra do isolamento e a pouca empatia com quem está trancado em casa. 

É justo que você mostre seu sorriso sem máscara em iates enquanto algumas pessoas estão sofrendo com falta de luz depois de meses de isolamento? 

Por mais que não postar pareça difícil, é simples. É só se colocar no lugar do outro e se fazer algumas perguntas: “se você estivesse em isolamento, se incomodaria com essas fotos?” “Será que isso é um bom exemplo? Ou será que a vontade de ostentar é maior do que a empatia com quem sofre? Difícil saber. Mas não é possível que em 2020, quando existe até uma profissão chamada influencer, as pessoas ainda não pensem em como fotos no Instagram influenciam os outros.

“Ah, mas você está com inveja.” Claro que estamos com inveja! Mas gente, vamos ser sinceros, provocar inveja (“desejo de compra”, “aspiração”), como dizem os profissionais de marketing, não é uma das principais funções do Instagram? 

Como eu não vou ter inveja se ir de novo a uma praia é um sonho distante, ainda me preocupo com o vírus (e muito) e para algumas pessoas parece que não tem nada acontecendo e elas estão na praia felizes? Como minha amiga, que mora no Rio, do lado da praia e está há cinco meses trancada (e passou o aniversário sozinha em casa) não vai ter inveja e raiva vendo essas fotos?

Neymar, esse não exemplo

Todos podiam já ter aprendido se olhassem de perto o que aconteceu com Neymar. De férias, semanas atrás, o jogador fez pior: postou uma foto amontoado com amigos em Ibiza.

O sujeito, que é o quarto atleta mais bem pago do mundo, postou foto de férias na praia espanhola amontoado com amigos e sem máscara. Dias depois,  foi diagnosticado com coronavírus. Ninguém precisa acusá-lo de não ter se cuidado nas férias –ele mesmo já mostrou, dia a dia, isso para todo mundo!

Pelo jeito, ninguém aprendeu com o Neymar, que além de se contaminar, passou para seus mais de 140 milhões de seguidores a mensagem de que ficar agarrado a os amigos (saudades!) era uma coisa que todos já podiam fazer. Mas ainda há tempo. E, sim, é possível ir à praia e não postar foto. Inclusive, o sol e o mar continuam sendo os mesmos.

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Fernanda Montenegro: ataques mostram que ela tem razão sobre imbecilidade http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/07/fernanda-montenegro-ataques-mostram-que-ela-tem-razao-sobre-imbecilidade/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/07/fernanda-montenegro-ataques-mostram-que-ela-tem-razao-sobre-imbecilidade/#respond Mon, 07 Sep 2020 16:45:10 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=4977

Divulgação

“A condenação ao redor da cultura é uma imbecilidade, é uma pretensão, um retrocesso gigantesco e trágico.” Quem disse isso foi Fernanda Montenegro, de 90 anos, atriz e, mais que isso, uma das maiores artistas brasileiras vivas. E, mais uma vez, Fernanda tem razão. Vivemos, sim, um tempo de retrocesso gigantesco e trágico. E uma prova disso é a maneira como ela, Fernanda Montenegro, tem sido tratada.

disse isso antes e é realmente uma prova de que vivemos tempos “imbecis” o fato de que vez ou outra Fernanda seja atacada e jornalistas  tenham que explicar de novo quem é Fernanda Montenegro e porque ela precisa ser respeitada.

No Twitter, na manhã desta segunda feira, mais uma vez, algumas pessoas ofendiam Fernanda Montenegro e diziam que ela “tem que trabalhar” (ela não precisa, mas está trabalhando, gente!). Inclusive, essa “polêmica do momento” começou porque Fernanda estreia um trabalho novo amanhã. 

Sim, enquanto muitos de nós estavam reclamando do tédio de ficar em casa e da angústia que é ter um presidente que fala que “vão morrer uns velhos e tudo bem”, Fernanda, repito, de 90 anos, estava trabalhando. Ela aproveitou o isolamento para fazer uma série para a Globo com a filha Fernanda Torres, o genro, Andrucha Waddington, os netos, a família. 

Mesmo depois de gravar, ela continua trabalhando, dando entrevistas sobre a série. E ela é tão comprometida, que continua atuando politicamente, emitindo suas opiniões e dando a cara à tapa defendendo a cultura do Brasil. 

Ter Fernanda Montenegro atuante e lúcida é um privilégio. Mas, como vivemos realmente tempos de um retrocesso trágico, depois de dar uma entrevista ao Fantástico e criticar a falta de incentivo à cultura no Brasil atual, um sujeito chamado Adrilles Jorge (eu  também não sabia quem era, mas é um  ex-BBB) resolveu dar uma bronca em Fernanda Montenegro em um programa da rádio Jovem Pan.

Choque? Sim. “Até onde chega a auto-estima do homem hétero? “me perguntei, incrédula. Como pode alguém achar que pode dar uma bronca em Fernanda Montenegro? Pois eu vi o sujeito dizer: “Meu amor (sim, ele chamou Fernanda Montenegro de “meu amor”) me diz quem está sendo perseguido?”.

E ainda disse o seguinte: “Eu sou poeta (socorro, ele se comparou a Fernanda Montenegro!) não sinto  que estou sendo perseguido, a não ser que você acha que perseguição é o governo não te dar um dinheirinho para fazer uma peça.” Sim, é absurdo. Ele acusa a atriz de “mamar nas tetas”, como eles dizem. Não vou reproduzir o resto porque ninguém merece. 

Sim, todos podem dar opiniões. E seria normal se isso fosse só a opinião de um homem sem noção que quer causar. Mas o pior é que muitas pessoas deram razão a ele, muitas mesmo, E teve quem falasse que Fernanda é uma “artista lacradora”.

É triste, é desesperador. E Fernanda Montenegro, mais uma vez, traduz como ninguém o que anda acontecendo: “Nos meus anos todos, nem no regime militar, vi algo assim”. Depois de ver que uma mulher como Fernanda Montenegro, ativa aos 90 anos, está sendo tratada assim, difícil não concordar com ela mais uma vez…

Desculpa, Fernanda, eles não sabem o que dizem.

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Três meses após a morte de Miguel, patroa acusada segue impune. Surpresa? http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/04/tres-meses-apos-a-morte-de-miguel-patroa-acusada-segue-impune-surpresa/ http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/2020/09/04/tres-meses-apos-a-morte-de-miguel-patroa-acusada-segue-impune-surpresa/#respond Fri, 04 Sep 2020 07:00:56 +0000 http://ninalemos.blogosfera.uol.com.br/?p=4972

“Por conta de um luxo, para não borrar as unhas, ela tirou meu filho. Ela tirou tudo de mim. Ele tirou o meu neguinho.” As frases foram ditas aos prantos e em tom de apelo por Mirtes de Souza na quarta-feira (2/3) em uma live organizada pelo grupo Articulação Negra de Pernambuco. O vídeo com a mãe de Miguel, o menino de cinco anos que foi colocado sozinho no elevador e caiu do nono andar em Recife, marca os três meses depois do crime. “Ela”, no caso, é Sarí Cortes Real, ex-patroa de Mirtes, que foi denunciada por crime de abandono de incapaz com resultado em morte e responde ao processo em liberdade. 

Nesses três meses, uma frase dita por Mirtes na época do crime continua fazendo muito sentido. “Se fosse o contrário, já estaria na penitenciária. Nem fiança eu teria.”

Veja também

Em um vídeo divulgado na época do crime, é possível ver que o garoto entra no elevador sob as vistas de Sarí e que ela mesma aperta o botão do nono andar, de onde o menino caiu minutos depois. Sarí tomava conta do menino enquanto fazia as unhas e Mirtes passeava com o cachorro da patroa.

Sarí pertence a uma família rica e poderosa de Pernambuco (ela é mulher do prefeito da cidade de Tamandaré) e, depois de pagar uma fiança de 20 mil reais, foi solta. Em seu primeiro depoimento, foi tratada com regalias. A delegacia foi aberta 5h da manhã para que ela chegasse sem tumulto. Seus advogados deveriam apresentar sua defesa dia 27 de agosto, mas pediram um prazo maior e ganharam tempo. Na terça-feira, ficou decidido que eles teriam mais dez dias. 

Mirtes e sua mãe, que trabalham há mais de 20 anos para a família, junto com o pai da criança, pedem uma indenização total de R$ 987 mil. 

Como se não bastasse toda a tragédia que ela vive, Mirtes ainda teve que aguentar ódio online quando o valor da indenização foi divulgado. Como se ela quisesse lucrar com a morte do filho.

Vamos lá, fazer um exercício de imaginação de novo: e se quem tivesse morrido fosse o filho de uma família rica depois de cair, por exemplo, em uma escola de elite e fosse provado que a responsável no momento não cuidou da criança. Alguém diria que a família estava “explorando” ou tentando enriquecer se pedisse uma multa nesse valor? Não, certo? 

Na live de quarta -feira, entre soluços, Mirtes agradeceu a aqueles que lutam com ela por justiça. Segundo a mãe de Miguel “isso não resolve, mas alivia um pouco meu coração. Me ajudem a aliviar meu coração”, implorou.

Por enquanto, Mirtes tem tido ajuda, sim, da sociedade civil. Ela é assistida por advogados, conta com apoio do movimento Articulação Negra de Pernambuco, outras organizações e de celebridades.

Essa semana, foi lançada uma campanha para dar luz ao caso, com frases de Mirtes escritas em camisetas (com design de Mana Bernardes) e participação de famosas. Angélica, Giovanna Ewbank, Astrid Fontenelle e Patrícia Pillar vestiram as camisetas para cobrar a justiça pernambucana.

Mesmo assim, não é difícil imaginar que nada aconteça com Sarí. O mais provável, se não existir pressão, é que tudo se resolva com um acordo bom para a acusada e bem longe do que a vítima pleiteia. Pergunto de novo: já pensou se fosse o contrário?

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